Sou um eco, uma linha riscada no vento,
onde o tempo e o espaço se confundem em névoa.
Caminho entre as sombras e as luzes do meu ser,
fragmentado, diluído entre os olhares alheios
e o profundo vazio que me habita.
Há um pântano em mim,
onde mergulho nas profundezas,
onde os sentimentos se enredam,
as emoções brotam como raízes entrelaçadas,
sem saberem de onde surgem,
nem para onde se dirigem.
Na intensa densidade, tudo se dissolve,
mas nada se apaga.
Sou, em silêncio,
a impermanência de cada passo dado.
Os arquétipos habitam-me como espectros,
trazendo o peso de um destino já escrito
nos meus genes,
no meu corpo que carrega as histórias de outros corpos
e, ainda assim, me perco em busca do que sou.
Vejo o mundo como um espelho partido,
onde cada fragmento reflete uma parte de mim,
mas nunca a totalidade, nunca o completo,
somente o que me resta entre os dedos,
o que escapa.
E o que restou?
O que restou de mim é uma pulsão de vida,
uma chama que se acende e apaga com a mesma força,
um desejo incessante de entender o que sou
sem jamais chegar a um lugar fixo.
Vivo entre os poros do tempo,
entre a dúvida e a certeza,
entre o que posso e o que sou incapaz de alcançar.
É tudo em mim um jogo, uma dança caótica,
entre o que desejo ser
e o que me resta,
o que arrasto nas veias de uma memória esquecida
e o que busco no eco do que ainda não foi.
No entanto, algo se interpõe,
uma presença invisível que me atravessa,
um fio que corta o silêncio,
além das palavras,
um puxão sutil para o além,
que me obriga a questionar tudo o que vejo
e toco,
enredando-me numa dúvida que não desejo resolver.
Sou reflexo das minhas escolhas,
mas também sou o silêncio entre elas,
onde os arcos das minhas angústias
se desenham como estradas sem fim.
E por mais que caminhe,
a verdade é que nunca chego,
porque o que busco
não se encontra nas paisagens que vejo,
mas naquilo que, por dentro, permanece inominado,
o que se esconde na sombra do que ainda não sei.
E assim sigo,
mergulhando no abismo das minhas próprias emoções,
cavando na terra escura do meu ser,
à procura de um vestígio perdido no eco do tempo,
como quem busca a essência da vida na poeira das estrelas.
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