Nenhum pé jamais pisará
no ventre do colosso gasoso.
Júpiter não tem chão,
só camadas de tempestade,
trovões que rugem para ninguém.
É rei sem trono fixo,
peso sem matéria,
um império de ventos
que gira sobre si próprio
à velocidade da vertigem.
Os seus olhos,
a Grande Mancha Vermelha,
observam há séculos
sem pestanejar,
sem compreender
nem serem compreendidos.
Lá dentro, talvez haja um núcleo,
denso como a origem do tempo,
ou talvez não,
talvez seja só vazio concentrado,
um truque antigo dos deuses
para nos lembrar que nem tudo o que é grande
é acessível,
nem tudo o que é belo
quer ser tocado.
Júpiter, o surdo,
o mudo,
o intocável.
Dele recebemos o escudo,
a gravidade que nos protege
dos errantes do espaço.
E nunca agradecemos.
Mas ele escuta, talvez,
na linguagem do campo magnético,
os sussurros
da nossa fragilidade.
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