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quinta-feira, 31 de julho de 2025

O Silêncio de Júpiter (onde os trovões não encontram eco) / J.M.J.

Nenhum pé jamais pisará

no ventre do colosso gasoso.

Júpiter não tem chão,

só camadas de tempestade,

trovões que rugem para ninguém.

 

É rei sem trono fixo,

peso sem matéria,

um império de ventos

que gira sobre si próprio

à velocidade da vertigem.

 

Os seus olhos,

a Grande Mancha Vermelha,

observam há séculos

sem pestanejar,

sem compreender

nem serem compreendidos.

 

Lá dentro, talvez haja um núcleo,

denso como a origem do tempo,

ou talvez não,

talvez seja só vazio concentrado,

um truque antigo dos deuses

para nos lembrar que nem tudo o que é grande

é acessível,

nem tudo o que é belo

quer ser tocado.

 

Júpiter, o surdo,

o mudo,

o intocável.

Dele recebemos o escudo,

a gravidade que nos protege

dos errantes do espaço.

 

E nunca agradecemos.

 

Mas ele escuta, talvez,

na linguagem do campo magnético,

os sussurros

da nossa fragilidade.

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