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sábado, 26 de julho de 2025

Grande Atrator (poema para quem se move sem saber porquê) / J.M.J.

Somos galáxias em marcha,

constelações ao ombro,

como quem muda de casa

sem ter escolhido destino.

 

A Via Láctea, essa espiral de estrelas

e histórias que nos incluem,

segue, silenciosa,

a uma velocidade absurda

em direção a um ponto

que ninguém vê.

 

Chamam-lhe o Grande Atrator.

Mas não brilha,

não fala,

não acena.

 

É um silêncio tão denso

que puxa tudo para si.

A gravidade da dúvida,

a força do não dito.

 

Será um coração de sombra?

Um abismo de matéria escura

onde o próprio tempo hesita?

 

Ou apenas o eco de um universo

que ainda não entendemos,

mas que já nos leva com ele?

 

Talvez o mistério seja

o verdadeiro núcleo de tudo:

nem luz,

nem nome,

apenas o impulso de ir.

 

E nós, poeira com consciência,

tentamos fazer sentido

enquanto somos levados.

 

Talvez o amor, a arte, a dúvida

sejam formas que inventamos

para dançar com o invisível

sem perder o passo.

 

 

Porque até as galáxias,

essas deusas do cosmos,

se curvam ao que não sabem

e isso não é fraqueza,

é verdade.

 

 

 

(Escrevi este poema após ler sobre o "Grande Atrator", uma força invisível que puxa a nossa galáxia, e milhares de outras, numa direção desconhecida. Essa imagem cósmica ressoou como metáfora do mistério que também nos move por dentro: forças que não compreendemos, mas que, mesmo assim, nos arrastam. Talvez a consciência seja isso, aprender a dançar com o invisível sem perder o passo.)

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