Somos galáxias em marcha,
constelações ao ombro,
como quem muda de casa
sem ter escolhido destino.
A Via Láctea, essa espiral de estrelas
e histórias que nos incluem,
segue, silenciosa,
a uma velocidade absurda
em direção a um ponto
que ninguém vê.
Chamam-lhe o Grande Atrator.
Mas não brilha,
não fala,
não acena.
É um silêncio tão denso
que puxa tudo para si.
A gravidade da dúvida,
a força do não dito.
Será um coração de sombra?
Um abismo de matéria escura
onde o próprio tempo hesita?
Ou apenas o eco de um universo
que ainda não entendemos,
mas que já nos leva com ele?
Talvez o mistério seja
o verdadeiro núcleo de tudo:
nem luz,
nem nome,
apenas o impulso de ir.
E nós, poeira com consciência,
tentamos fazer sentido
enquanto somos levados.
Talvez o amor, a arte, a dúvida
sejam formas que inventamos
para dançar com o invisível
sem perder o passo.
Porque até as galáxias,
essas deusas do cosmos,
se curvam ao que não sabem
e isso não é fraqueza,
é verdade.
(Escrevi este poema após ler sobre o "Grande
Atrator", uma força invisível que puxa a nossa galáxia, e milhares de
outras, numa direção desconhecida. Essa imagem cósmica ressoou como metáfora do
mistério que também nos move por dentro: forças que não compreendemos, mas que,
mesmo assim, nos arrastam. Talvez a consciência seja isso, aprender a dançar
com o invisível sem perder o passo.)
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