Há nomes que viram sílabas técnicas nos relatórios
e há homens que se tornam invisíveis na história.
Mas, às vezes, um nome rasga o véu do esquecimento
e deixa ver, por trás da ciência, um gesto, uma alma
desperta.
John Langdon Down,
não um burocrata da medicina,
não um colecionador de sintomas,
mas um homem que, em plena Era Vitoriana,
ousou escutar o silêncio de quem nunca fora escutado.
Entrou num asilo como se entra num templo profanado
e não viu lixo humano, nem corpos errados,
viu seres inteiros, dignos, esquecidos.
Aboliu castigos, limpou feridas, plantou jardins
e ofereceu aquilo que ninguém esperava encontrar num
hospital:
teatro, arte, beleza, confiança.
Fotografou os seus pacientes não como casos,
mas como pessoas.
Deu-lhes roupas elegantes,
posturas de nobreza,
devolveu-lhes o que o mundo lhes tinha tirado:
a condição humana.
E assim fundou um lugar chamado Normansfield,
onde a diferença não era sentença,
mas convite à ternura.
John não diagnosticou uma síndrome,
ele denunciou o abandono,
não inventou um rótulo,
devolveu um rosto.
Foi mais do que médico;
um visionário do coração,
um artesão da dignidade.
Hoje, enquanto tantos medem valor pela produtividade,
é urgente recordar quem mediu em presença, em afeto,
em escuta.
Porque o verdadeiro humanismo não precisa de aplauso,
precisa de continuidade.
Que a sua obra respire em nós
e que o seu olhar nos ensine a ver.
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