No silêncio das ondas, onde o sol mal alcança,
dançam os invisíveis, frágeis, pequenos, eternos.
Zooplâncton, labareda minúscula,
que carrega nos corpos o peso do mundo.
Gordura guardada, segredo de marés e estações,
mergulham fundo, em busca do ventre escuro,
onde o carbono se prende, se cala, se torna memória,
um pacto antigo entre vida e silêncio.
Esquecidos por olhos que buscam gigantes,
mas indispensáveis, guardiões do céu líquido,
que ao sucumbir ou ao dançar na corrente,
levam embora a fumaça que empoeira o ar.
Mas o calor sobe, o homem corta e pesca,
desfaz-se a teia invisível, desata-se o nó do ciclo.
O mar geme em voz baixa, quase inaudível,
e nós, cegos, perdemos o fio da vida.
Ouçam o grito sem som, o clamor dos minúsculos,
que sustentam a esperança, que trazem a salvação.
Que o oceano não seja só espelho quebrado,
mas altar onde o azul se renove e cante.
(Este poema nasceu de um espanto: o espanto de descobrir que a vida do
planeta depende, em grande parte, de criaturas que quase ninguém vê. O
zooplâncton, minúsculo, silencioso, invisível aos olhos distraídos, realiza um
milagre cíclico nas profundezas dos oceanos, capturando carbono e ajudando a
estabilizar o clima da Terra.
Mas esta vida invisível está em perigo. O aquecimento global e a pesca
intensiva, especialmente do krill, ameaçam este equilíbrio delicado. E quando
tocamos o invisível, abalamos o visível: o clima, o ar que respiramos, a
harmonia do planeta.
Este poema é um grito suave, um apelo à escuta. Que saibamos proteger não
só os grandes animais e as paisagens majestosas, mas também os pequenos seres
que, em silêncio, sustentam o mundo.)
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