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quinta-feira, 31 de julho de 2025

Sussurros do Azul Profundo (um grito pela vida invisível) / J.M.J.

No silêncio das ondas, onde o sol mal alcança,

dançam os invisíveis, frágeis, pequenos, eternos.

Zooplâncton, labareda minúscula,

que carrega nos corpos o peso do mundo.

 

Gordura guardada, segredo de marés e estações,

mergulham fundo, em busca do ventre escuro,

onde o carbono se prende, se cala, se torna memória,

um pacto antigo entre vida e silêncio.

 

Esquecidos por olhos que buscam gigantes,

mas indispensáveis, guardiões do céu líquido,

que ao sucumbir ou ao dançar na corrente,

levam embora a fumaça que empoeira o ar.

 

Mas o calor sobe, o homem corta e pesca,

desfaz-se a teia invisível, desata-se o nó do ciclo.

O mar geme em voz baixa, quase inaudível,

e nós, cegos, perdemos o fio da vida.

 

Ouçam o grito sem som, o clamor dos minúsculos,

que sustentam a esperança, que trazem a salvação.

Que o oceano não seja só espelho quebrado,

mas altar onde o azul se renove e cante.

 

 

(Este poema nasceu de um espanto: o espanto de descobrir que a vida do planeta depende, em grande parte, de criaturas que quase ninguém vê. O zooplâncton, minúsculo, silencioso, invisível aos olhos distraídos, realiza um milagre cíclico nas profundezas dos oceanos, capturando carbono e ajudando a estabilizar o clima da Terra.

Mas esta vida invisível está em perigo. O aquecimento global e a pesca intensiva, especialmente do krill, ameaçam este equilíbrio delicado. E quando tocamos o invisível, abalamos o visível: o clima, o ar que respiramos, a harmonia do planeta.

Este poema é um grito suave, um apelo à escuta. Que saibamos proteger não só os grandes animais e as paisagens majestosas, mas também os pequenos seres que, em silêncio, sustentam o mundo.)

 

 

 

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