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quinta-feira, 31 de julho de 2025

Contra a Verdade da Maioria (ou quando o consenso se torna prisão) / J.M.J.

Toda a maioria é um conforto

que custa demasiado à consciência.

 

Porque a verdade que se repete em coro

perde a dúvida,

e sem dúvida

não há verdade,

há catecismo.

 

O que a maioria chama “bom senso”

é muitas vezes o medo

de ver o mundo de outro ângulo.

 

A maioria gosta de regras

porque teme a revelação;

a revelação é fogo,

a regra é morna.

 

A maioria celebra os mapas

porque recusa a floresta.

 

Mas os que escutam o silêncio

sabem:

é no intervalo entre duas certezas

que nasce a visão.

 

É preciso parar,

quando o aplauso é unânime,

é preciso desconfiar,

quando o caminho parece demasiado direito

e é preciso resistir,

quando a verdade é servida já mastigada.

 

Porque a maioria não procura a verdade,

procura repouso.

 

E o pensamento que repousa

apodrece.

 

Por isso, honra os que duvidam,

os que andam contra o fluxo,

os que pagam o preço de pensar,

não porque tenham razão,

mas porque têm coragem.

 

A lucidez

não será nunca uma votação,

mas será sempre

um incêndio solitário

no centro do peito.

 

 

(Este poema nasce da urgência de desconfiar do consenso, quando ele se instala como dogma. Inspirado na frase de Mark Twain “Toda a vez que se encontrar do lado da maioria, é hora de parar e reflectir”, recusa a ideia de que a verdade possa ser propriedade de uma multidão ou determinada por número de vozes.

A maioria pode confortar, mas raramente desperta.

Este é um tributo aos que resistem ao conforto fácil das certezas, e preferem o risco do pensamento vivo à segurança do pensamento herdado.)

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