Toda a maioria é um conforto
que custa demasiado à consciência.
Porque a verdade que se repete em coro
perde a dúvida,
e sem dúvida
não há verdade,
há catecismo.
O que a maioria chama “bom senso”
é muitas vezes o medo
de ver o mundo de outro ângulo.
A maioria gosta de regras
porque teme a revelação;
a revelação é fogo,
a regra é morna.
A maioria celebra os mapas
porque recusa a floresta.
Mas os que escutam o silêncio
sabem:
é no intervalo entre duas certezas
que nasce a visão.
É preciso parar,
quando o aplauso é unânime,
é preciso desconfiar,
quando o caminho parece demasiado direito
e é preciso resistir,
quando a verdade é servida já mastigada.
Porque a maioria não procura a verdade,
procura repouso.
E o pensamento que repousa
apodrece.
Por isso, honra os que duvidam,
os que andam contra o fluxo,
os que pagam o preço de pensar,
não porque tenham razão,
mas porque têm coragem.
A lucidez
não será nunca uma votação,
mas será sempre
um incêndio solitário
no centro do peito.
(Este poema nasce da urgência de desconfiar do consenso, quando ele se
instala como dogma. Inspirado na frase de Mark Twain “Toda a vez que se
encontrar do lado da maioria, é hora de parar e reflectir”, recusa a ideia de
que a verdade possa ser propriedade de uma multidão ou determinada por número
de vozes.
A maioria pode confortar, mas raramente desperta.
Este é um tributo aos que resistem ao conforto fácil das certezas, e
preferem o risco do pensamento vivo à segurança do pensamento herdado.)
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