Ele veio do cimento,
da geometria dos muros,
e aprendeu cedo que o medo é uma linguagem.
Ergueu a voz como quem se ergue do chão,
mas já trazia nos olhos
o plano exato para a sua dinastia.
Não queria apenas o poder,
mas que o seu mando fosse imagem,
rebatimento nos olhos dos outros,
um vulto que não se desfaz.
Nem sempre sabia moldar a cólera em discurso,
mas vestia a multidão com frases curtas,
ditas como quem escarra certezas.
Inventou um inimigo para cada esquina,
e ofereceu à fome
um nome fácil de engolir.
Prometeu limpar os corredores
com a fúria do que nunca sujou as mãos
e muitos creram,
e muitos aplaudiram a purga
antes de verem o sangue.
Dentro dele, uma torre de pedra fria,
erguida sobre mitos partidos,
um patriotismo apressado,
cego ao que verdadeiramente nos sustenta.
Mas as torres não são eternas,
quando têm o ego como cimento.
Vieram fendas nas fundações;
primeiro no silêncio dos corredores,
depois nos rostos dos que o seguiam
e por fim, dentro do próprio espelho.
As vozes que o elegeram
começaram a soar como reverberações vazias,
o púlpito tornou-se jaula,
o estandarte, peso.
Os seus próprios passos
começaram a fazer ruído demais
e o que antes era certeza,
agora tremia entre os dentes.
Um a um, os pilares ruíram,
não por ataque,
mas por exaustão da mentira,
por excesso de verniz,
sobre a madeira podre.
E ele,
o arquitecto da sua imagem,
o escultor do próprio vulto,
ficou enfim só
com o que restava:
a estátua que ninguém quis erguer.
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