A abelha voltou com o corpo inclinado,
as asas incertas, um traço de néctar estranho na língua.
As outras sentiram o odor do desvio,
não era perfume, era fermento.
No limiar, duas guardiãs cruzaram as patas:
a entrada não é para quem cambaleia.
Aqui dentro dança-se em harmonia,
e os mapas do voo não toleram desvios.
Mas quem disse que o erro é uma essência?
Que o tropeço é sentença perpétua?
Ela não sabia
e provou o néctar sem pressentir o abismo,
voou torta, sim, mas voltou. Voltou.
O que é uma colmeia sem memória do regresso?
Sem espaço para o reencontro com o eixo?
Quem vigia a entrada sem vigiar o coração
talvez proteja a estrutura,
mas esqueça a alma do enxame.
A justiça mais alta não mora na expulsão.
Ela pergunta:
ainda sabes dançar com as outras?
ainda trazes luz no pólen, mesmo que trémula?
A abelha espera,
não pede perdão e oferece presença.
Já não está embriagada, está só,
e espera que alguém, entre o zumbido e o instinto,
se lembre que a embriaguez não é eterna
e que há gestos que salvam mais que protegem.
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