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sábado, 26 de julho de 2025

Rostos Virados ao Vento / J.M.J.

Há quem viva com os olhos voltados

para retratos a preto e branco,

onde o silêncio era ordem,

e o medo, rotina.

 

Erguem-se vozes com saudade

de muros altos, de portas fechadas,

de um tempo em que pensar era luxo,

e falar, perigo.

 

Mas o tempo não recua,

não obedece à nostalgia nem à ilusão.

O futuro não cabe em molduras antigas

nem marcha ao som de hinos gastos.

 

O mundo gira,

inventa-se em algoritmos,

fala línguas novas

e respira incerteza.

A tecnologia não consulta ideologias,

nem as tempestades ouvem líderes.

 

Valores mudam,

profissões evaporam,

a terra aquece,

e o poder já não mora apenas nos palácios

mas em redes, dados, nuvens.

 

Há quem tente travar o rio

com as mãos do passado,

mas a água escapa,

impiedosa, inevitável.

 

Não precisamos de fantasmas de ordem,

mas de coragem para o caos,

de olhos abertos, não fechados,

de pensamento crítico, não de slogans.

 

O futuro não pede licença,

irrompe, instala-se, transforma

e nós, ou caminhamos com ele,

ou ficamos parados;

rostos virados ao vento,

a falar sozinhos com a história.

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