Há quem viva com os olhos voltados
para retratos a preto e branco,
onde o silêncio era ordem,
e o medo, rotina.
Erguem-se vozes com saudade
de muros altos, de portas fechadas,
de um tempo em que pensar era luxo,
e falar, perigo.
Mas o tempo não recua,
não obedece à nostalgia nem à ilusão.
O futuro não cabe em molduras antigas
nem marcha ao som de hinos gastos.
O mundo gira,
inventa-se em algoritmos,
fala línguas novas
e respira incerteza.
A tecnologia não consulta ideologias,
nem as tempestades ouvem líderes.
Valores mudam,
profissões evaporam,
a terra aquece,
e o poder já não mora apenas nos palácios
mas em redes, dados, nuvens.
Há quem tente travar o rio
com as mãos do passado,
mas a água escapa,
impiedosa, inevitável.
Não precisamos de fantasmas de ordem,
mas de coragem para o caos,
de olhos abertos, não fechados,
de pensamento crítico, não de slogans.
O futuro não pede licença,
irrompe, instala-se, transforma
e nós, ou caminhamos com ele,
ou ficamos parados;
rostos virados ao vento,
a falar sozinhos com a história.
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