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domingo, 27 de julho de 2025

A Máquina do Invisível / J.M.J.

Um som cresceu dentro da pedra

como se a noite tivesse nervos.

Algo antigo, mas novo,

estremeceu o silêncio.

 

Não era gume, nem fogo,

era ritmo;

um compasso que ninguém ouve,

mas que abre a cela sem tocar o ferro.

 

Veio pela luz que não cega,

aquela que entra

pelas fendas onde os olhos não alcançam,

mas o corpo ainda escuta.

 

Dentro da carne escura,

onde o medo cria raízes sem nome,

uma dança começou,

delicada como a mão que afaga o vidro,

antes de quebrá-lo por dentro.

 

Não há grito, nem veneno,

só o desmanche suave

daquilo que não devia ter ficado.

 

E quando o vazio se recolhe,

resta o corpo como campo fértil,

esperando o que sempre soube:

que às vezes, a cura

chega com o som

do que ninguém disse.

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