Não compreendo quinze mil milhões de anos-luz,
nem preciso.
Basta-me saber que há muralhas que se erguem
sem mãos, sem fim,
e ainda assim me tocam.
Lá fora, o cosmos redesenha-se
como um animal que muda de pele,
e os que o estudam, ajoelham-se,
não por fé,
mas por espanto.
Cada nova medida
é um espelho curvo,
onde o infinito se dobra sobre nós
e murmura:
“Tu também és vasto,
só ainda não alcançaste o todo de ti.”
Porque há muralhas cá dentro
feitas de silêncios antigos,
camadas de memória não escavada,
estrelas que arderam antes de nascermos
e continuam a pulsar em sonhos.
Enquanto eles mapeiam galáxias distantes,
nós mapeamos a consciência,
um continente por cartografar.
E talvez, quando enfim cruzarmos
a muralha invisível entre fora e dentro,
descubramos que sempre fomos
parte do mesmo abismo em expansão.
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