Não tinha nome entre os botânicos,
nem títulos nem pergaminhos,
apenas doze anos
e um dedo curioso.
Não lhe ensinaram nada,
só lhe disseram: trabalha.
Mas ele escutou a flor.
Viu nela o que os doutores não viram:
um véu que se podia levantar
um beijo possível
entre pólen e estigma.
Com um galho,
com um nada,
fez nascer o impossível:
a baunilha.
E o mundo, que antes se calava
ante o fracasso das mentes brancas,
explodiu em perfume e lucro.
Reunião, depois Madagáscar,
depois o planeta inteiro
colhendo frutos do gesto
que não podia ser reconhecido.
Porque se um escravo sabia mais
do que os homens livres,
o que era então a liberdade?
O que era então a ciência,
a ordem, o império?
O menino ficou,
sem glória,
sem salário,
sem nome nas placas.
Mas deixou um traço
em cada gota de essência,
em cada sorvete de infância,
em cada forno doce.
E a flor,
que outrora escondia o seu segredo,
hoje sabe
que foi tocada
pela mão de quem ninguém quis ver.
Edmond:
não és símbolo, és presença,
não és mártir, és memória
e a tua vitória, embora silenciada,
resiste,
com o aroma que nunca mais esqueceremos.
Sem comentários:
Enviar um comentário