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terça-feira, 29 de julho de 2025

O Segredo da Orquídea (poema em memória de Edmond Albius) / J.M.J.

Não tinha nome entre os botânicos,

nem títulos nem pergaminhos,

apenas doze anos

e um dedo curioso.

 

Não lhe ensinaram nada, 

só lhe disseram: trabalha.

Mas ele escutou a flor.

Viu nela o que os doutores não viram:

um véu que se podia levantar

um beijo possível

entre pólen e estigma.

 

Com um galho,

com um nada,

fez nascer o impossível:

a baunilha.

 

E o mundo, que antes se calava

ante o fracasso das mentes brancas,

explodiu em perfume e lucro.

Reunião, depois Madagáscar,

depois o planeta inteiro

colhendo frutos do gesto

que não podia ser reconhecido.

 

Porque se um escravo sabia mais

do que os homens livres,

o que era então a liberdade?

O que era então a ciência,

a ordem, o império?

 

O menino ficou,

sem glória,

sem salário,

sem nome nas placas.

 

Mas deixou um traço

em cada gota de essência,

em cada sorvete de infância,

em cada forno doce.

 

E a flor,

que outrora escondia o seu segredo,

hoje sabe

que foi tocada

pela mão de quem ninguém quis ver.

 

Edmond:

não és símbolo, és presença,

não és mártir, és memória

e a tua vitória, embora silenciada,

resiste,

com o aroma que nunca mais esqueceremos.

 

 

 

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