Não sei como se começa,
quando tudo já começou
sem mim.
Fui jogado ao centro da cena
com falas que não escrevi
e roupas que me serviam mal.
Disfarcei,
mas cada gesto forçado
rasgava-me por dentro.
E foi aí que nasceu,
a ferida.
Não uma ferida comum,
daquelas que o tempo fecha.
Esta não.
Esta abriu-me.
Abriu-me os olhos
para o que fui negando,
o corpo para o que não sentia,
o rosto para o que escondia.
E sangrei.
E escondi o sangue
e sorri por cima dele.
Mas agora
sei:
a ferida é uma abertura.
É por ela que escapo da prisão da máscara,
é por ela que o rosto verdadeiro começa a emergir,
como um animal esquecido
que finalmente volta ao sol.
E dói.
Mas é um dói que me acorda.
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