Ele não gira,
orbita a memória.
Cada anel é uma cicatriz circular,
um eco da matéria perdida,
um relógio sem ponteiros
feito de gelo e silêncio.
Saturno não brilha,
mas atrai.
Com a paciência dos que sabem esperar,
drena as perguntas do universo
e enrola-as à sua volta
como véus de um deus esquecido.
Longe demais para ser amado,
perto o suficiente
para ser temido.
Na sua presença,
os sonhos tornam-se longos
e as certezas, pó.
Quantos séculos há no seu passo?
Quantos olhos falharam o instante
em que ele disse tudo
sem dizer nada?
Saturno ensina-nos
a cair com elegância,
a envelhecer em órbita,
a aceitar o peso
daquilo que não se pode mudar.
Não é cruel,
é só justo.
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