Não sei ainda o meu rosto,
mas sei que ele existe
debaixo dos entulhos.
Há traços que pressinto
como se fossem memórias de futuro.
Uma linha firme onde antes tremia,
um olhar que não desvia,
uma boca que desaprende o silêncio imposto.
Demolir dói,
mas reconstruir exige mais:
esperar pelo que não se conhece,
dar forma ao que nunca foi permitido ser.
Hoje, o que vejo ao espelho
é uma paisagem em ruínas,
mas não fujo mais dela.
Sento-me nas pedras,
falo com o pó,
acolho os fragmentos.
Um a um,
vou recolhendo os cacos
e devolvendo-lhes nome.
Não nomes que me deram,
mas os que nasceram comigo
e foram esquecidos.
Ainda não sou inteiro,
mas sou verdadeiro no inacabado.
E há uma força nisso,
um silêncio novo;
quase voz.
Sem comentários:
Enviar um comentário