O tempo não é régua,
é rio torto, que hesita nas margens da luz.
Perto da estrela cansada,
ou na beira do buraco onde tudo se cala,
ele dobra os joelhos,
e passa mais lento,
como se tivesse medo de avançar.
Há relógios que batem no peito
mais rápido que os de pulso
e há silêncios tão densos,
que fazem um segundo pesar uma vida.
O viajante que toca quase-luz
leva consigo a juventude,
enquanto o mundo que ficou
envelhece na espera.
Dentro de um buraco negro,
o tempo desiste do nome;
ali, passado e futuro dançam juntos,
sem saber quem dá o primeiro passo.
E nós, frágeis na pele, mas vastos na alma,
sentimos o tempo inclinar-se também
quando olhamos alguém demasiado tempo,
quando perdemos, quando amamos,
ou quando esperamos que o regresso
venha, mesmo que curvado,
pelas linhas invisíveis do espaço.
Porque o tempo, afinal,
não é só o que marca as horas,
mas também o que nos marca.
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