Vivemos tempos em que o absurdo
fala com autoridade,
e o real, calado num canto,
espera ser notado.
Acredita-se no que grita mais alto,
não no que faz mais sentido
e segue-se quem promete céu,
mesmo que o caminho leve ao abismo.
A fé, que deveria ser ponte,
virou escudo contra o pensamento,
e pensar,
esse verbo perigoso,
é tratado como heresia
nas catedrais do fanatismo.
Criam-se deuses por conveniência,
líderes por carência,
e doutrinas como moldes
para quem tem medo do próprio rosto.
A verdade,
essa é relativa,
adaptável,
comercializável,
vende-se em parcelas
ao gosto do freguês.
E quem pergunta, incomoda,
quem duvida, trai,
quem vê claro, assusta.
Mas ainda há quem resista,
quem prefira a dor de ver,
à paz de ser cego
e esses, mesmo poucos,
são fendas por onde entra a luz.
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