Rompe-se um selo antigo,
não apenas no corpo,
mas no tempo onde a culpa se fez lei.
O desejo, que andava escondido
entre muros de medo e silêncio,
reaprende a erguer-se,
nu, inteiro, sem se curvar.
Durante gerações,
o prazer foi vigiado, julgado,
transformado em sombra,
em sentença escrita no suor.
Mas chegou a cura,
não como milagre,
mas como resposta da vida à sua própria sede.
Agora, os corpos podem voltar
a ser linguagem,
o movimento íntimo, liberto da culpa,
é canção no espaço reencontrado.
Esta liberdade não grita, não desafia,
simplesmente respira;
é o direito de amar sem medo,
de tocar sem culpa.
De viver sem esconder-se.
Não é desordem,
é reconciliação,
não é excesso,
é a forma natural do lume
quando ninguém mais lhe diz: apaga-te.
E que cada encontro
seja, daqui em diante,
uma celebração da vida
e não uma fuga da morte.
Que cada pele, tocada sem temor,
traga de volta o milagre da presença
e que o amor, finalmente,
não precise esconder-se do mundo
nem de si.
(Este poema foi inspirado pela recente descoberta de uma cura eficaz contra
o VIH,
celebrando o fim de um longo ciclo de medo e repressão,
e o renascimento da liberdade íntima como expressão plena da vida.)
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