Somos poeira,
num fio de sombra a girar no escuro,
neste grão suspenso chamado Terra,
perdido numa galáxia
entre bilhões de outras.
Ainda assim,
erguemos bandeiras sobre a epiderme do mundo,
traçamos linhas em mapas frágeis
como se o chão nos pertencesse.
Medimos valor em muros, em algarismos,
em nomes escritos no alto de prédios
que o tempo apagará
como o vento apaga passos na areia.
Ignoramos o silêncio das estrelas,
a vastidão que grita:
nada é teu.
Nem o corpo,
nem o agora.
E enquanto brigamos por utopias ocas,
há mundos nascendo em distâncias impossíveis,
galáxias se espreguiçando
no ventre do que ainda não é.
Mas aqui, neste canto do céu,
nos foi dado o dom de criar,
de oferecer renovação onde havia ruína,
de acender lume onde o frio reina.
Se há algo que vale,
não é o que tomamos;
é a entrega,
a semente,
o poema.
Não temos muito tempo,
mas temos tempo o bastante
para escolher:
se faremos do efémero
um paraíso partilhado,
ou um inferno
feito do supérfluo.
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