Somos passageiros de uma nave
que nunca para
e no entanto,
nunca sentimos o impulso.
A cápsula azul suspensa no nada
viaja sem som, sem pressa,
carregando florestas, cidades, memórias e sonhos,
sem janelas para ver o passado,
sem sinais que anunciem a passagem,
envolta na quietude do infinito.
A Terra desliza
como se flutuasse em silêncio,
sem o ranger de eixos,
sem buracos no alcatrão das estrelas.
Voamos a milhões por hora,
mas o corpo crê que repousa.
Só o espírito,
às vezes, pressente a vertigem.
Florestas dormem
nos seus flancos,
cidades sonham
sem saber da travessia.
Conquistamos centímetros
num universo que nos ignora,
e mesmo assim,
há beleza nesse avanço invisível.
O cosmos é estrada sem fim,
a galáxia, um sopro onde flutuamos
e a Terra,
nossa nave a céu aberto,
leva-nos consigo,
sem que nunca
tenhamos aprendido
a guiá-la.
Sem comentários:
Enviar um comentário