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sexta-feira, 25 de julho de 2025

Punhal de Gaza / J.M.J.

Não tragas flores,

traz-te a ti, inteiro,

com os olhos abertos onde doem.

 

Não digas "complexo",

quando há crianças a dormir

sem metade do corpo.

 

Não digas "ambos os lados",

quando um deles já foi apagado

da margem do mapa.

 

Não tragas estatísticas,

ouve.

Cada número é um nome

que gritava por pão

e encontrou um míssil.

 

Não fales da História

como desculpa para a morte.

A História não pede vingança,

pede memória,

e a memória tem cheiro de terra queimada

e dentes de leite esmagados.

 

Tu,

que desviaste o olhar,

tu és parte,

tu que não quiseste saber,

assinaste em branco

o decreto da ruína.

 

Este punhal é só palavra,

mas entra onde sangra a verdade,

não corta carne,

corta silêncio.

 

E se doer,

então estás vivo

e se arder,

então ainda há fogo

onde Deus pode acender o mundo de novo.

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