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quinta-feira, 31 de julho de 2025

O Número da Democracia (à luz do símbolo) / J.M.J.

Um é o trono

onde ninguém responde,

só ecoa o silêncio da ordem.

É poder sem espelho,

rocha sem fenda,

nome sem rosto.

 

Dois é o espelho,

a simetria inquieta

do sim e do não,

a tensão que espera equilíbrio,

mas vive na corda da disputa.

 

Entre ambos,

chega o três,

não como soma,

mas como revelação.

 

Três é o passo que falta

para que o círculo se abra,

é o terceiro olhar

que não toma partido,

mas vê.

 

É a voz que surge

não para calar as outras,

mas para lembrar

que a verdade tem lados

e camadas

e intervalos.

 

Três é quando a fala se torna escuta,

quando o juízo se adia

em nome da escuta profunda.

 

É o número da praça,

não do púlpito,

é o número do vento,

não do muro.

 

Democracia não é voto,

é vértice,

não é consenso,

é travessia.

 

E quando o mundo insiste em dualizar,

em reduzir a escolha a trincheiras,

o três reaparece

como semente do imprevisível,

o lugar onde começa

a liberdade de pensar

fora do combate.

 

 

(Este poema nasce de uma intuição simbólica: a ideia de que o número 3 representa, de forma profunda, a essência da democracia verdadeira.

Não se trata apenas de uma contagem, um, dois, três, mas de um movimento espiritual.

O número 1 representa o poder absoluto, indivisível, autocrático: um centro que não admite diálogo.

O número 2 traz o espelho, a polaridade, a oposição,  necessária, mas também incompleta. Vive no conflito entre o sim e o não, no jogo de forças que se anula ou se repete.

É no 3 que algo novo acontece: o nascimento do espaço comum. O 3 não vem tomar partido, vem ver. Representa a escuta, o vértice, o olhar que transcende a dualidade.

Este poema propõe que a verdadeira democracia não é a mera contagem de votos, mas a capacidade de criar espaço para a diferença, para o terceiro olhar, o que não se alinha por medo ou pertença, mas por consciência.

A democracia não deve ser a tirania da maioria nem o jogo eterno de rivalidades, mas sim a arte sagrada da convivência entre diferenças,  o 3 como símbolo de abertura, de tensão criativa e de inteligência coletiva.

Em tempos de polarização, lembrar o 3 é lembrar a liberdade que vive entre os extremos e que resiste à violência de quem quer reduzir o mundo a dois lados.)

 

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