Um é o trono
onde ninguém responde,
só ecoa o silêncio da ordem.
É poder sem espelho,
rocha sem fenda,
nome sem rosto.
Dois é o espelho,
a simetria inquieta
do sim e do não,
a tensão que espera equilíbrio,
mas vive na corda da disputa.
Entre ambos,
chega o três,
não como soma,
mas como revelação.
Três é o passo que falta
para que o círculo se abra,
é o terceiro olhar
que não toma partido,
mas vê.
É a voz que surge
não para calar as outras,
mas para lembrar
que a verdade tem lados
e camadas
e intervalos.
Três é quando a fala se torna escuta,
quando o juízo se adia
em nome da escuta profunda.
É o número da praça,
não do púlpito,
é o número do vento,
não do muro.
Democracia não é voto,
é vértice,
não é consenso,
é travessia.
E quando o mundo insiste em dualizar,
em reduzir a escolha a trincheiras,
o três reaparece
como semente do imprevisível,
o lugar onde começa
a liberdade de pensar
fora do combate.
(Este poema nasce de uma intuição simbólica: a ideia de que o número 3
representa, de forma profunda, a essência da democracia verdadeira.
Não se trata apenas de uma contagem, um, dois, três, mas de um movimento
espiritual.
O número 1 representa o poder absoluto, indivisível, autocrático: um centro
que não admite diálogo.
O número 2 traz o espelho, a polaridade, a oposição, necessária, mas
também incompleta. Vive no conflito entre o sim e o não, no jogo de forças que
se anula ou se repete.
É no 3 que algo novo acontece: o nascimento do espaço comum. O 3 não vem
tomar partido, vem ver. Representa a escuta, o vértice, o olhar que transcende
a dualidade.
Este poema propõe que a verdadeira democracia não é a mera contagem de
votos, mas a capacidade de criar espaço para a diferença, para o terceiro
olhar, o que não se alinha por medo ou pertença, mas por consciência.
A democracia não deve ser a tirania da maioria nem o jogo eterno de
rivalidades, mas sim a arte sagrada da convivência entre diferenças, o 3
como símbolo de abertura, de tensão criativa e de inteligência coletiva.
Em tempos de polarização, lembrar o 3 é lembrar a liberdade que vive entre
os extremos e que resiste à violência de quem quer reduzir o mundo a dois
lados.)
Sem comentários:
Enviar um comentário