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domingo, 30 de agosto de 2009

Águas

Cada vez mais,
me sinto parecido com os outros,
neste caminho para a individualização.
Mas, difícil, ainda, é abrir mão
do que acredito possuir,
defendendo-me do inesperado,
do que rejeito (re)conhecer
e assim, distrair-me à descoberta
de outra(s) riqueza(s),
que também me habita(m).
O poço é fundo
e repleto de tantas águas,
que aparentemente se misturam;
em cada gota há uma história,
e espelha-se-me vida à superfície,
nas ondas de todo o momento.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A caminhar

Se algum capricórnio
cair da montanha,
que não seja sábado,
a meio da tarde,
no momento em que eu
lá estiver
a caminhar,
por entre velhas memórias
e o verde,
e que não me caia(m) ele,
(e outro(s)),
em cima.
Mas, consequentemente depois.

Mesmo acabado,
certamente
persistirá ignóbil
e louco,
no sopé,
querendo ambiciosamente trepar,
mesmo sem cornos,
nem a vontade de todos,
até que se feche de vez
o Outono,
sem que reste folha,
que ilustre galho.

O pior,
seria abater a montanha,
em vez da conjuntura.

(2009)

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Nem tudo...

Nem tudo, o que me aconteceu
no berço,
balança na minha inquietude.
Já nasci (pre)disposto
a alguns movimentos
e a certas pessoas,
e sou infinitamente aparentado.

Não sei
por que não tenho quaisquer lembranças
do início,
nem mesmo de quando vim aqui, assim?
O que sempre muito me marcou
nunca foi fácil esquecer,
nem (me) perdoar...

O pormenor encadeia,
e inibe a liberdade de coragem.
E não há verdade
que explique a totalidade.

E o fim
nunca se completará.

(2009)

sábado, 22 de agosto de 2009

Amordaçado

Tenho medo do escuro das pessoas,
mesmo vistas à luz.
Acredito nas palavras
convictamente ditas com emoção;
enfeitiça-me o sedutor
e logo se quebrarão sonhos pelo chão...
Escondo-me de moralistas verdades,
que se definem e regem,
tenebrosamente magoam,
dilacerando-me das vísceras à alma,
o vínculo dos sentidos à vida...
Nunca por querer, finjo ser outro(s),
que não eu.
Reina na selva o predador,
perseguem-me os uivos das lembranças,
os ventos da tempestuosa saudade,
as dores das perdas, as mortes,
a raiva por derrotas amaldiçoadas,
o grito repreensor,
que me amordaça a mente e a voz...
Farei de tudo,
para ser um pouco mais do que sou,
renegando a brutalidade das trevas,
sublimando o desejo,
vasculhando o prazer
abençoado pelo amor...
Pesa-me o fardo do sofrimento,
a mó do empobrecido encanto,
o tempo das passadas no deserto,
a inquietação por um oásis sob estrelas...
Sinto a pena abstracta da humilhação,
sinto-me só,
vazio de ambição e de egoísmo,
sinto-me à beira da perdição de um abismo,
desvairadamente louco,
sem bonança,
nem gloriosos deuses que cumpram...
Instintivamente me arrumo ao saber,
luto em clandestina resistência,
para que me consiga vencer,
caminho para o fim
desde o início,
busco o êxtase do dever,
sendo o eu que imaginei ao futuro,
até que meu corpo serenamente entardeça.

(2003)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Sonhos

Gostaria de ter um sonho
que fosse somente meu,
e inovador,
diferente do que habitualmente
sou tentado a acreditar.
Mas mesmo que sempre erre
ou constantemente me desiluda,
parece que dificilmente aprendo
e que nunca me distancio o suficiente
do que tanto me submerge
ou se confunde nos sonhos
e em mim.
Invariavelmente persisto,
como cego,
edificá-los sobre os alicerces
de minha ancestralidade,
emocionais,
por que pressinto segurança
e assim ser capaz de chegar ao céu
de uma qualquer felicidade.

Gostaria de ter um sonho,
que fosse somente meu,
e inovador,
que me concretizasse.

(2009)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Não me lembro...

Não me lembro
de quando fui peixe
e/ou o meu habitat foi o mar,
porém mergulho por gosto,
mas nem sempre por querer
em águas profundas.
E não (sobre)viveria
se não tivesse minha vista
oceano para se banhar
e assim me preencher
de ilusão de infinito,
refrescando persistentemente
a nossa velha memória.

E também,
nada sei do amor
que não seja tão grande
como o (a)mar.

(2009)

sábado, 15 de agosto de 2009

In petto

No canto eloquente
de tua voz amargurada,
há um desencantado chilrear
enlouquecido,
um pássaro branco,
que voa esquecido de pousar,
ansioso por romper
a velha madrugada,
para que possa, assim,
(re)nascer dia.
Há um forte
e místico sopro,
forjadas magias,
sons em melódico vibrato,
inebriados de dor,
transmutando o sofrer
num arco-íris de amor,
preenchendo de luz
almas tristes,
de vazias.
Soltam-se
palavras proibidas,
ousadas,
providas de tempestades forçadas,
carentes de temperança,
no breu infinito dos céus,
arrepiantemente sentidas.
No canto de tua voz
há o timbre do desejo
num compasso solitário,
o fogo da raiva,
o grito da terra,
o instinto do poeta,
sem gaguez,
o símbolo aguerrido
da viril identidade
de ser nobre
e português,
em traje de alvo linho
in petto o caminho
de cavaleiro Templário.

(2004)

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Ser de mim

Amor, inteligência.
inteligência, amor.

A inteligência do amor,
o amor da inteligência.

Eros, Logos,
Logos, Eros...

Mais a vontade;
a de vencer as sombras,
todas as profundezas,
sem a de corresponder
aos desejos,
a da determinação
ao estímulo da vida,
e até a de ser capaz
de ser
de mim,
tudo,
e até Deus,
com os outros.

(2009)

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Abrir janelas e sorrisos

Muitos se esqueceram das janelas,
que em tempos, por medo, fecharam.
Outros não se querem lembrar
das portas que estão por abrir,
como se a transparência
não fosse visível às escuras
e o que se apresenta tão claro,
não acabasse por (des)iludir.
Vivo no mundo
que (re)invento,
e corre-me um rio, de dentro,
de inesgotável nascente,
que desagua lá, num lençol de estrelas,
o que me faz de tecto,
e que me inspira ao sonho de infinito,
e donde chove o que nem sempre sei,
para que acorde e viva,
e seja tão simplesmente feliz...
Continuo a abrir janelas e sorrisos
para os dias que me nascem ao olhar
e com a vontade,
que espreita,
a que me educo,
bato com todas as portas
ao que me queira restringir a liberdade
ou a quem me faça sentir prisioneiro da noite,
que também, em mim,
habita há tanto.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

E ser...

É no inconsciente
que está o teu futuro.
Mergulha nas profundezas de ti,
colhe de vez
os fragmentos do chão
das primeiras emoções,
e livra-te do peso
de memórias milenares,
resolve-te na transexualidade
da psique,
assume-te nas tuas projecções
e estabelece a ponte certa
ao complexo de tua persona,
para que chegues,
ainda a tempo
de completar
o teu verdadeiro Eu
e ser a felicidade do Todo.

Assim, o mundo te espera.
Vê-o, com o olhar crente do agora,
despreocupadamente.

Cria, Criador...

Cria
e (re)ver-te-ás
nos filhos,
na obra...

Olha-te
e completa-te,
para que assim, atinjas
melhor o teu
Criador.

A grande estrada

Descobre-te no caminho
e acharás a grande estrada
limpa do que te aflige,
do que não és capaz,
do que te faz sentir (i)mundo
de desassossego...

Fecha-te ao engano,
do que sem querer,
constantemente procuras,
para que te distraia,
e fujas assim, ao silêncio
do encontro, a sós,
com a tua real imagem.

As passadas da consciência,
que te firmam ao chão,
doiem,
mas também te abrirão
as asas de ser,
ao anil
e ao céu,
ao amor por descobrir,
e a tudo,
e ao Todo.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Lisboa mulher

Nesta mulher se cria um sonho,
todos o julgam risonho.
Ela é toda esta esperança,
que se inventa, se destrói,
corre p´la dor não se cansa,
o sofrimento não a mói.

De garganta escancarada,
tem na voz a madrugada.
Ela é a noite no desejo
sob um homem que a fatiga,
bebe da água deste Tejo,
não há saudade que a siga.

Canta em outro tom o fado,
por nunca o ter ensaiado.
Lança as mágoas na canoa,
que lhe foge na corrente,
e a gaivota que ali voa
livre poisa-lhe na mente.

Ela é a tarde, que demora,
logo que vem, vai-se embora.
Formosura junto à proa
tem na leveza a maneira
de dançar e ser Lisboa
ao lado de uma traineira.

João Jacinto

(1976)

Na minha Terra...

Na minha Terra
não se nega a riqueza.
Indigna é a pobreza.

Na minha Terra
há riqueza
a distribuir,
justamente.

Na minha Terra,
também há muito pobre
de barriga cheia.

Equivocado

Brinco com coisas sérias,
quando só me apetece chorar
e escondo o meu carpido,
da felicidade que me espreita.
Nem sempre quero
saber de mim,
o que se revela,
e vou-me entretendo no tempo,
com esperança de me alcançar,
desmonto os meus pensamentos
e procuro pelos atalhos dos enganos,
as fugas ao próprio olhar,
e dou comigo de frente,
fingindo a coragem,
equivocado.

Fado das palavras

Neste fado das palavras,
afadigo-me de não as escrever
ou delas me vestir.

Os poemas
são palcos de vida,
onde me mascaro de tudo,
e até do que não quero
e não sou,
mas que temo.
E brinco
à beira do abismo,
esticando a corda,
acreditando que a mim,
ela jamais arrebentará,
e que assim, possa eu
vestir-me e despir-me
como um sofredor,
sem mesmo, o ser,
nem o sentir
na própria pele...

Neste fado das palavras,
prefiro palavras sem fado.

Gostaria

Gostaria
de ser mais igual,
a mim próprio,
para ser diferente,
de pintar a minha alma
de alegria
e primavera,
e que todos os pássaros
me reinventassem
o céu.

Para não me perder...

Para não me perder
luto constantemente
contra o caos,
que sorrateiramente
inventei.

Na insuficiência
de ser,
o medo da sobrevivência,
castra-me a originalidade,
e eu acabo por me fingir,
e correr atrás
dos que me desprezam.

Gradualmente,
descobrirei
no poder,
os direitos
que me servem
e os deveres
que exijo.

Culpo
o que me põe em risco
e custa-me
o que jamais serei capaz.

E procuro-me
no absoluto,
por que me dá jeito.

O caminho

Deverá o sonho
vencer o medo,
por que nada se repete,
nada será igual,
e até pela vontade,
se combate.
O caminho
foi desenhado
desde o início.
Seremos capazes,
descomprometidos
com a pretensão
e com a carência...

Crescemos
todos os dias,
até a dormir.

Abril

Abril
é poesia,
é fonte de esperança,
é luz de liberdade,
é um Tejo, que me desagua,
de prazer,
em águas de fraternidade...
Abril
somos nós,
aos molhos, pelo mundo,
como cravos,
ao rubro,
floridos de palavras
em português
e declamando os poetas
e o nosso sonho.
Abril
foi ontem,
mas poderá ser
mais logo,
outra vez!...

Hyacinthus

No parapeito de minha janela
plantei três bolbos,
num Bohemia, vaso de cristal,
afogados nas lágrimas
de minhas efusivas alegrias,
de meus não consentidos
e sufocados dissabores,
de Hyacinthus.
Estão separados, pela vidraça,
no lado de dentro,
do dia e da noite,
sem vento,
nem chuva...

Frágeis
flores de estufa!

Basta-lhes
olhar o Sol,
espreitar o mundo
e crescer,
de um primeiro andar,
alto.

domingo, 2 de agosto de 2009

Barcos de papel

Do monte,
onde se fez Páscoa,
e poisou o primeiro olhar
ao começo da descoberta,
avista-se além Atlântico
as costas de um poeta
que está virado para o mar,
brincando aos navegantes
com barcos feitos de papel;
o que serviu seus escritos
e onde rabiscados
foram sonhos...

O poeta
tem na memória
a aventura,
no barulho das ondas
o apelo ao caminho
de Iemanjá.

Família

Minha mãe;
sagrada morada,
minha primeira família!...

Sempre
que (re)crio intimidade,
previno Deus,
para que não interfira...

Vivo num t-zero,
alugado,
onde pode,
bem arrumado,
caber todo o amor do mundo.

Minha mãe,
minha primeira família!...

Borboleta do céu

Sou jacinto,
esquecido de tudo,
sem tempo,
perdido
num descampado,
sem jardim
fecundo de verde,
sob a protecção
de uma sábia
e espinhosa acácia.

Uma borboleta vinda do céu,
mesclada em tons de amor,
encantou-se por mim.

Morro de saudade,
depois de em cacho florir
e renasço de esperança,
na espera do doce beijo,
ao feliz encontro
com o meu existir.

Já não temerei Zéphyro!

sábado, 1 de agosto de 2009

(Des)encontro

Nem sempre sei
o que digo,
e nem sempre alcanço
o que me é dito.

E atraso-me,
ou finjo estar adiante,
no entendimento
do caminho,
por que temo
o (des)encontro.

Um pedaço de esperança

Tanto céu!
Hoje, tantas estrelas nasceram,
outras possivelmente sucumbiram...
E eu procurando a tranquilidade
neste canto pequeno do mundo,
aonde também caibo,
mas tão apertado me sinto.
Tanto lugar,
debaixo de outras estrelas,
que não estas,
que me habitam na mente,
para descobrir felicidade
e quem lá vive feliz.
Por que me confundem
palavras de falsas promessas,
e a pobreza de quem tudo espera,
e joga, aqui...
Visto-me
com uma qualquer roupagem,
talvez pela culpa,
que me despe de coragem,
para lutar,
por já não crer
na consciência de um todo.

Já não há valores,
mas ainda há Alma
e um pedaço de esperança.