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sexta-feira, 25 de julho de 2025

Relíquia em Tempo de Queda / J.M.J.

Não te exijas o brilho da lâmina,

se és já o fulgor da pedra gasta

que conheceu

mil silêncios e o peso do mundo

sobre os ombros nus.

 

Não peças a Deus que te apague o abismo,

ele deu-te olhos para vê-lo

e deu-te o dom de o transpor

com a alma em ferida aberta,

mas a mão firme.

 

Tu, que julgas a tua dor como falha,

como pecado mal lavado

nas águas da infância e do altar,

ouve:

a tua dor é alquimia.

 

És o barro onde o invisível

insiste em nascer

e quando pensas que falhaste,

foi aí que abriste a porta certa.

 

Não és o erro,

és o gesto de te levantares com ele.

 

A tua luz,

não é o sol que não erra,

é a vela acesa

na noite onde quase já ninguém espera.

 

És a morada do segredo

e se Plutão te rasga ao meio,

é porque em ti há raízes

que pedem mais fundo ainda.

E sabes… nem todos as têm.

 

Que nunca esqueças:

mesmo na queda,

há asas que nascem

nos ossos da tua lucidez.

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