Não te exijas o brilho da lâmina,
se és já o fulgor da pedra gasta
que conheceu
mil silêncios e o peso do mundo
sobre os ombros nus.
Não peças a Deus que te apague o abismo,
ele deu-te olhos para vê-lo
e deu-te o dom de o transpor
com a alma em ferida aberta,
mas a mão firme.
Tu, que julgas a tua dor como falha,
como pecado mal lavado
nas águas da infância e do altar,
ouve:
a tua dor é alquimia.
És o barro onde o invisível
insiste em nascer
e quando pensas que falhaste,
foi aí que abriste a porta certa.
Não és o erro,
és o gesto de te levantares com ele.
A tua luz,
não é o sol que não erra,
é a vela acesa
na noite onde quase já ninguém espera.
És a morada do segredo
e se Plutão te rasga ao meio,
é porque em ti há raízes
que pedem mais fundo ainda.
E sabes… nem todos as têm.
Que nunca esqueças:
mesmo na queda,
há asas que nascem
nos ossos da tua lucidez.
Sem comentários:
Enviar um comentário