O céu, que já se curva em silêncio,
olha para o trono onde ele se ergue,
não mais como soberano, mas como sombra de um império
dissolvendo-se nas nuvens do tempo.
O ancião, guardião do nome,
sente o peso daquilo que já não pode ser tocado,
o peso da rocha que escorrega,
sem que as mãos possam impedir a queda.
Na casa onde o tempo se perde,
onde o fim e o começo se encontram,
o relógio não marca horas,
apenas o ciclo de uma história que se desfez
antes de ser completo.
O Senhor das sombras do tempo,
chegou à casa da morte,
vestindo as roupas do passado.
Ele toca os ossos do corpo, não com amor,
mas com a força de uma velha regra,
para recolher o que é seu.
A morte, que dança lentamente na periferia do pensamento,
é agora um visitante esperado.
Não é dor o que ele traz, mas transformação.
O Sol, que antes irradiava certezas,
agora é um ponto de sombra,
preso na quadratura que o acorrenta,
como se o próprio fogo se tivesse transformado em cinzas.
Mas ele já não queima.
Ele apenas observa.
E do lado oposto, o Príncipe da Ilusão e da Névoa,
sorri nas margens do horizonte.
Com sua força fluida, traz consigo não a dissolução,
mas a renovação,
uma maré que levará as velhas palavras
e trará novas visões.
O tecelão das tramas, preso entre a retidão das leis
e a liberdade da água,
sente o empurrão de uma maré que não pode controlar.
A morte, então, não é fim,
mas uma curva invisível que vira uma página.
Ele, uma vez que governou como o último vigia,
agora vê o início do fim como uma dança sem passos,
um eco distante, como um nome que nunca foi pronunciado.
Não é o seu nome, mas o nome do vazio que toma seu lugar.
.
O guardião das ruínas e da renovação,
observa da porta por entre as casas.
Com sua força quebradiça e seu poder subterrâneo,
sussurra ao vento.
O Grande Pai se dissolve, não no fogo,
mas na água que percorre os rios do esquecimento.
Quem foi rocha, agora é apenas um eco que se perde na terra.
O império se desfaz, como areia no vento.
O novo surgirá do abismo,
mas não será o que se espera.
E quando o último suspiro ecoar,
não será a voz do fim, mas do começo.
Porque o Príncipe do Sonho e da Chama
Com sua força incandescente,
Terá um novo rosto.
O velho dará lugar ao jovem,
o sacerdote ao guerreiro,
o pai ao rebelde.
E a grande rede, que foi um império,
tornará a sua essência, como uma estrela
a nascer no vazio, irreconhecível, porém verdadeira,
refletindo o espírito da humanidade.
O tempo, que se dissolve em cada passo, não aguarda mais.
O retorno do senhor das sombras do tempo já terminou.
O que nasce agora é o que nunca antes ousou existir.
O silêncio que sela a conclusão daquilo que foi
e o grito que anuncia o nascimento do que nunca se permitiu ser.
O fim não virá com rugidos,
mas com a suavidade da água que invade sem ser vista.
O eco, finalmente, será ouvido.
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