Existem homens que caminham
com a alma em carne viva,
sem ninguém ver.
Guardam no peito
um silêncio herdado,
feito da ausência
do nome “pai”.
Não lhes faltou comida,
faltou colo,
faltou a mão no ombro,
a palavra leve,
o olhar que dissesse:
“És suficiente.”
E então amam demais,
ou de menos,
desejam como quem se afoga,
buscam corpo,
mas é alma que pedem.
Confundem o toque com salvação,
a conquista com cuidado,
o prazer com pertencimento.
Não querem sexo,
querem abrigo.
São homens com fome de céu,
e sede de raiz.
Carregam no olhar
o menino que foram,
aquele que esperava no escuro
um milagre de ternura.
E um dia,
sem que ninguém perceba,
essa criança em silêncio
recebe um gesto:
um sopro de aceitação,
um abraço sem nome,
um lugar seguro,
às vezes na arte,
na oração,
na presença de alguém
que não exige nada.
E nesse instante raro,
a alma abre fendas
e por entre os escombros da falta,
brota uma luz antiga:
um amor que não cobra,
não pesa,
não passa.
Um amor
que não vem do mundo,
mas de dentro
ou de Deus.
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