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sábado, 26 de julho de 2025

Homens com Fome de Céu / J.M.J.

Existem homens que caminham

com a alma em carne viva,

sem ninguém ver.

Guardam no peito

um silêncio herdado,

feito da ausência

do nome “pai”.

 

Não lhes faltou comida,

faltou colo,

faltou a mão no ombro,

a palavra leve,

o olhar que dissesse:

“És suficiente.”

 

E então amam demais,

ou de menos,

desejam como quem se afoga,

buscam corpo,

mas é alma que pedem.

 

Confundem o toque com salvação,

a conquista com cuidado,

o prazer com pertencimento.

Não querem sexo,

querem abrigo.

 

São homens com fome de céu,

e sede de raiz.

Carregam no olhar

o menino que foram,

aquele que esperava no escuro

um milagre de ternura.

 

E um dia,

sem que ninguém perceba,

essa criança em silêncio

recebe um gesto:

um sopro de aceitação,

um abraço sem nome,

um lugar seguro,

às vezes na arte,

na oração,

na presença de alguém

que não exige nada.

 

E nesse instante raro,

a alma abre fendas

e por entre os escombros da falta,

brota uma luz antiga:

um amor que não cobra,

não pesa,

não passa.

 

Um amor

que não vem do mundo,

mas de dentro

ou de Deus.

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