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sábado, 12 de dezembro de 2009

O fanatismo

O fanatismo é a ignorância da fé,
a insegurança maior
de quem mesmo com asas de esperança
só consegue ter poiso
dentro de sua própria gaiola.

Quem crê, não duvida 
e aceita-se na vontade do Todo,
com a tolerância que eleve a sua diversidade,
para que se (r)evolucione.

Os dogmas não servem toda a realidade.


sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O rei brilhou e o justo nasceu

O rei tornou-se
sucessivamente grande,
e logo brilhou
quando se escondeu;
saiu da longa noite
onde perecia visível
no inferno do indefinível
e na infinitude dos sentidos.
E a nona seta
apontava, perfeita no arco,
para as estrelas deste fado
preso de limites,
cantado por vozes
que não se cansam
em transcender o canto.
E ascenderam, nos corações,
de esperança, outros ventos.
E fez-se breve
a primeira estação;
por ser ainda tempo
de má colheita.

O rei brilhou
e o justo nasceu,
herdando uma cadeira
já morta.

E outras flores,
por fim,
animaram o futuro.

Mas o lírio
nunca (re)nasceu.


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3843N
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quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Além Finis Terrea

Neste mar
de eternos marinheiros
e de sonhadores poetas,
com o último fogo
ateado por instintos nómadas,
ascendendo no nono degrau
dos reflexos rápidos
e da independência.
De animus ferido de morte
em derradeiro renascer de heroína,
escondido nas profundezas
de todo o bom espírito
onde se recolhe o Sol
à meia-noite,
bem debaixo dos pés do mundo,
em chão de tempo,
suportado por colunas
de vagas lembranças,
fortes de prima emoção,
e de libido de conquistas...
Espreita o negrume
da tempestade
e agitam-se ondas de descrença,
ameaçando o deus da revolta
e da liberdade,
a transcendência,
a mudança,
e o efervescer do caos,
a subida de marés vivas,
até ao cimo do céu, onde,
persiste, outro fado,
o reino do absurdo
e da utopia,
e, Cronos voltará a esforçar-se,
até que das margens do poder
inundadas e varridas
em todo o inverno,
nasça um cardume de coragem
e de saber,
num prometido ponto vernal, qualquer,
que conduza a barca do Império
além Finis Terrae,
à descoberta,
de sensatus humanus
Mar de Universo.

05101910
105235
3843N
0908W

domingo, 11 de outubro de 2009

Se o Homem...

Se o Homem
é ser inteligente
não pode haver
pobre e rico,
rico e pobre...
E assim, se prove, afinal,
a pobreza de seu espírito.

Há-de nascer
a elite dos homens bons,
sem mistérios,
nem silêncios e magias,
sem os disfarces do poder
que humilha
quem, sem querer,
carrega a Sombra da servidão.

É urgente
(re)criar o Homem,
ser inteligente
e humanista (re)criador.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

(De)corre...

Tudo (de)corre
nas profundezas
de mim;
um palco
onde me represento.
Tudo o resto
é mera ficção.

Em esforço
materializo,
e constantemente
me tento
e me repito,
e erro,
existo...

E construo-me
a todo o momento
em caminho,
ao Eu que tão sabiamente
me espera.

domingo, 20 de setembro de 2009

Ambiciono

Deverei contestar
os males do mundo,
ou confrontar
a minha (im)perfeição?

O que me nasce
ao caminho,
vem-me de dentro,
e tem a dimensão
do que mereço
e o peso de tudo
o que (re)colhi
e acumulei,
e mal vivi.

Não é o que possuo
que me enriquece,
mas o que livremente
tento conquistar,
desnudado,
em mim.

Ambiciono
o que é simples
e a manhã.

sábado, 19 de setembro de 2009

(R)evolução das passadas

Alcança-se, já o fim
desta última estrada,
há muito, por outros iniciada,
sem se pressentir lá, outra.
A paragem
será surpreendente
e animada
pela (r)evolução das passadas,
ao traçado
e às estruturas
do caminho do arco-íris.
E não chegará boa vontade
para que nasçam,
prematuramente,
flores de primavera...
Os frutos
levarão outro tanto tempo,
até que caiam maduros de saber
e de gente.

Ser levado pela estrada,
não é construir o caminho
que tenha o fim
que todos lhe queiram dar.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Democracia

Um
é solidão,
dois
é (des)(h)armonia,
três
(ou mais de três)
é democracia.

E não há três,
sem todos.

sábado, 12 de setembro de 2009

Ser o corpo que (re)vista nossa mente

Queria dizer-te tanto
e acabo por nada te dizer.
Ontem, sabia,
sabia e tinha tudo na ideia,
e o que penso, nunca tem fim
e não consigo parar de pensar,
o que tinha sonhado,
e dito a todos os;
necessitados como eu, de acreditar,
que me olharam com sorrisos
até plantados nas mãos,
que também me fizeram mil e uma promessas,
me deram muitas esperanças
e até me ofereceram um futuro novo,
que me convenceram de sua felicidade,
mas que não desistem de ambicionar mais e mais...
Queria dizer-te tanto
e acabo por nada te dizer.
Ontem, sabia,
sabia, mas hoje acordei,
como se tivesse um ancião (des)conhecido,
junto à minha cabeceira,
e que me avisasse,
que por ali ficaria, por mais de uma semana,
à conversa.
e que me aconselhasse
a sentar-me à beira da cama
e colocasse os pés bem firmes e presos ao chão,
enquanto com ele falasse
e para que o ouvisse, assim, com mais atenção,
e que me ajudasse a concentrar,
para que pudesse sentir a vibração da Terra,
e que apontasse para o firmamento
para que olhasse
e tentasse entender o infinito.
E eu nunca iria perceber
a Terra mexer,
e até me sentiria insignificante
quando ousasse invadir o céu.
E que constantemente, me questionasse,
sobre os meus sonhos
e a minha ingenuidade,
e que me obrigasse a ver e a analisar,
cá, para bem dentro de mim,
até ao infinito de minhas células,
e não sei o quê, de minha alma,
e eu mal entrasse,
não gostasse do que visse,
e chorasse, por mim e por ti e por todos.
E que me desse um corpo, já formado,
para que vestisse a minha mente,
e assim concretizasse os meus sonhos
e não alimentasse mais,
as evasões e os devaneios,
e acreditasse no Homem
e nunca nas utopias
de alguns homens,
que fingem sonhar
o Homem.
Queria dizer-te tanto
e acabo por nada te dizer.
Ontem, sabia,
nada sabia.
Hoje, pouco sei,
amanhã, talvez saibamos,
ou por mais uma semana,
ser o corpo
que (re)vista
nossa mente,
(e o amor).

Todas as horas têm um propósito
e há as idades do sentir.




(Este poema foi escrito, inspirado no presente aspecto astrológico Saturno/Neptuno.)

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Mais esperto...

Por vezes,
acho-me mais esperto,
não, do que os outros,
(não, mas também)
mas, do que eu,
quando devo ser inteligente.
É-me difícil
a consciência.
Mas, basta-me
(d)escrever-me,
para que acorde,
abra o olho,
e me veja um pouco melhor,
com alguma nitidez...

É-me difícil
a consciência.
Sinto-me atulhado
de tantas emoções.
Mesmo que de nada
me lembre,
impede-me
à plenitude...

Dispo-me
de muitas roupagens,
sobrepostas,
camada por camada,
mas também temo
a nudez.
Vencerei,
certamente,
todos os males,
e farei da sombra, luz,
trabalhando,
arduamente, mais a vontade
do que a coragem...

Ou admiro...

Ou odeio,
preso à pretensão de ser mais,
que ninguém,
e ao (des)amor,
que só por mim sinto...
Ou adoro,
iludido, pela necessidade
de ter de alguém,
o que julgo nunca ser,
nem possuir...
Ou, simplesmente, admiro
o esforço de quem se diferencia,
humildemente,
e me ensina a ser parecido
com os demais,
e comigo,
para que seja mais fácil
o meu caminho
com o(s) outro(s)
e o pise, tão dignamente,
nas pegadas já desenhadas,
há tanto,
e à minha espera.

Não basta que seja,
ou tenha,
se não souber.
E haver,
quem me transmita...

domingo, 6 de setembro de 2009

(Re)negar

(Re)negar qualquer parte do todo
é não aceitar o todo de mim.
Crer em tudo
e ser o todo
é (con)viver,
anulando o conflito,
e (re)descobrir-me,
a toda a hora,
no que me habita,
desde sempre,
para além deste meu caminho.
Por detrás,
do que me dita a razão,
escondem-se muitas emoções
que desconheço.
Quanto mais
me procuro com os sentidos
menos me acho
na essência.
E a vontade
se é impessoal,
deverei estar sempre
bem atento,
às minhas atitudes.

Que mais poderei fazer
se não deixar,
que eu aconteça
e ser feliz com o todo de mim,
no todo de tudo?

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Não sei se sei escrever

Não sei
se sei escrever.
Gosto do que as palavras me dizem,
e faço jogos com elas,
e até mesmo amor,
quando me seduzem
e me vêm ao pensamento
com afabilidade.
E esforço-me
para que todos me entendam
e ouçam as palavras
que escrevo,
minhas são, certamente,
e o sentido que lhes quis dar,
naquele preciso momento,
em que exactamente as escrevi,
como, com meiguice, as trabalhei,
nunca levianamente as usando,
sem pensar de acordo com o sentir,
e com tudo o que penso,
e sonho,
e amo...
Querendo-as sempre muito, dividir,
com os que também pensam,
e têm sonhos,
e me escrevem.
Ou também, e por que não,
com aqueles
que ainda não sabem pensar por si,
vivem o sonho errado
ou o de outros,
que não encontram o caminho das palavras,
nem se lembram,
nem de escrever,
nem sequer de falar alto,
nem de olhar ao espelho...
Não sei
se sei escrever.
Acho que já soube,
não me lembro.
Mas certamente já escrevi muito,
ou muitos lutaram por me escrever,
sem que os lesse o suficiente,
nem os ouvisse,
e outros morreram
pelo atrevimento de sua escrita,
e outros só muito mais tarde,
tão tarde, que nunca em vida o souberam,
foram (re)conhecidos
pelo que despertaram...
Mas, sinto-me impelido a isto,
de juntar palavras.
Repetitivamente mergulho-me
e pressinto-me,
mas é tão difícil ir fundo e tão longe...
E apanho palavras de fragmentos de histórias,
já escritas, à minha espera,
sem eu saber,
e vejo-me entre multidões,
que me falam, mas nada entendo,
e no meio, animais que nunca vi,
e todos me olham perplexos,
e todos sem querer me assustam,
talvez por não saber
ao certo onde ando,
nem onde fica a minha casa...
E rapidamente fujo
e reconstruo-me, (re)criando histórias,
com as minhas palavras,
e assim materializo o espírito
e sinto-me vivo,
e iludido,
e seguro no meio
de tantas palavras felizes,
e de todos os que conheço e amo...
Não sei
se sei escrever.
Mas por entre a inocência
dos vocábulos,
soletro baixinho
a frieza do silêncio de mim,
e reescrevo-me, até sempre,
até que a caneta se gaste
e haja futuro,
e um espaço em branco
neste meu papel.

Não sei
se sei escrever
tudo o que sei
e não sei.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Do que somente tu

Nunca sentencies os outros,
por aquilo que és.
Aceita-os apenas como se apresentam,
e confina-te a constatar
o que em liberdade conseguem conceber,
para que aprendas a reverenciar
a tua própria individualidade.  

Tudo é bem mais, 
do que, o que mal se vê
e somente tu.  

domingo, 30 de agosto de 2009

Águas

Cada vez mais,
me sinto parecido com os outros,
neste caminho para a individualização.
Mas, difícil, ainda, é abrir mão
do que acredito possuir,
defendendo-me do inesperado,
do que rejeito (re)conhecer
e assim, distrair-me à descoberta
de outra(s) riqueza(s),
que também me habita(m).
O poço é fundo
e repleto de tantas águas,
que aparentemente se misturam;
em cada gota há uma história,
e espelha-se-me vida à superfície,
nas ondas de todo o momento.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A caminhar

Se algum capricórnio
cair da montanha,
que não seja sábado,
a meio da tarde,
no momento em que eu
lá estiver
a caminhar,
por entre velhas memórias
e o verde,
e que não me caia(m) ele,
(e outro(s)),
em cima.
Mas, consequentemente depois.

Mesmo acabado,
certamente
persistirá ignóbil
e louco,
no sopé,
querendo ambiciosamente trepar,
mesmo sem cornos,
nem a vontade de todos,
até que se feche de vez
o Outono,
sem que reste folha,
que ilustre galho.

O pior,
seria abater a montanha,
em vez da conjuntura.

(2009)

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Nem tudo...

Nem tudo, o que me aconteceu
no berço,
balança na minha inquietude.
Já nasci (pre)disposto
a alguns movimentos
e a certas pessoas,
e sou infinitamente aparentado.

Não sei
por que não tenho quaisquer lembranças
do início,
nem mesmo de quando vim aqui, assim?
O que sempre muito me marcou
nunca foi fácil esquecer,
nem (me) perdoar...

O pormenor encadeia,
e inibe a liberdade de coragem.
E não há verdade
que explique a totalidade.

E o fim
nunca se completará.

(2009)

sábado, 22 de agosto de 2009

Amordaçado

Tenho medo do escuro das pessoas,
mesmo vistas à luz.
Acredito nas palavras
convictamente ditas com emoção;
enfeitiça-me o sedutor
e logo se quebrarão sonhos pelo chão...
Escondo-me de moralistas verdades,
que se definem e regem,
tenebrosamente magoam,
dilacerando-me das vísceras à alma,
o vínculo dos sentidos à vida...
Nunca por querer, finjo ser outro(s),
que não eu.
Reina na selva o predador,
perseguem-me os uivos das lembranças,
os ventos da tempestuosa saudade,
as dores das perdas, as mortes,
a raiva por derrotas amaldiçoadas,
o grito repreensor,
que me amordaça a mente e a voz...
Farei de tudo,
para ser um pouco mais do que sou,
renegando a brutalidade das trevas,
sublimando o desejo,
vasculhando o prazer
abençoado pelo amor...
Pesa-me o fardo do sofrimento,
a mó do empobrecido encanto,
o tempo das passadas no deserto,
a inquietação por um oásis sob estrelas...
Sinto a pena abstracta da humilhação,
sinto-me só,
vazio de ambição e de egoísmo,
sinto-me à beira da perdição de um abismo,
desvairadamente louco,
sem bonança,
nem gloriosos deuses que cumpram...
Instintivamente me arrumo ao saber,
luto em clandestina resistência,
para que me consiga vencer,
caminho para o fim
desde o início,
busco o êxtase do dever,
sendo o eu que imaginei ao futuro,
até que meu corpo serenamente entardeça.

(2003)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Sonhos

Gostaria de ter um sonho
que fosse somente meu,
e inovador,
diferente do que habitualmente
sou tentado a acreditar.
Mas mesmo que sempre erre
ou constantemente me desiluda,
parece que dificilmente aprendo
e que nunca me distancio o suficiente
do que tanto me submerge
ou se confunde nos sonhos
e em mim.
Invariavelmente persisto,
como cego,
edificá-los sobre os alicerces
de minha ancestralidade,
emocionais,
por que pressinto segurança
e assim ser capaz de chegar ao céu
de uma qualquer felicidade.

Gostaria de ter um sonho,
que fosse somente meu,
e inovador,
que me concretizasse.

(2009)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Não me lembro...

Não me lembro
de quando fui peixe
e/ou o meu habitat foi o mar,
porém mergulho por gosto,
mas nem sempre por querer
em águas profundas.
E não (sobre)viveria
se não tivesse minha vista
oceano para se banhar
e assim me preencher
de ilusão de infinito,
refrescando persistentemente
a nossa velha memória.

E também,
nada sei do amor
que não seja tão grande
como o (a)mar.

(2009)

sábado, 15 de agosto de 2009

In petto

No canto eloquente
de tua voz amargurada,
há um desencantado chilrear
enlouquecido,
um pássaro branco,
que voa esquecido de pousar,
ansioso por romper
a velha madrugada,
para que possa, assim,
(re)nascer dia.
Há um forte
e místico sopro,
forjadas magias,
sons em melódico vibrato,
inebriados de dor,
transmutando o sofrer
num arco-íris de amor,
preenchendo de luz
almas tristes,
de vazias.
Soltam-se
palavras proibidas,
ousadas,
providas de tempestades forçadas,
carentes de temperança,
no breu infinito dos céus,
arrepiantemente sentidas.
No canto de tua voz
há o timbre do desejo
num compasso solitário,
o fogo da raiva,
o grito da terra,
o instinto do poeta,
sem gaguez,
o símbolo aguerrido
da viril identidade
de ser nobre
e português,
em traje de alvo linho
in petto o caminho
de cavaleiro Templário.

(2004)

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Ser de mim

Amor, inteligência.
inteligência, amor.

A inteligência do amor,
o amor da inteligência.

Eros, Logos,
Logos, Eros...

Mais a vontade;
a de vencer as sombras,
todas as profundezas,
sem a de corresponder
aos desejos,
a da determinação
ao estímulo da vida,
e até a de ser capaz
de ser
de mim,
tudo,
e até Deus,
com os outros.

(2009)

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Abrir janelas e sorrisos

Muitos se esqueceram das janelas,
que em tempos, por medo, fecharam.
Outros não se querem lembrar
das portas que estão por abrir,
como se a transparência
não fosse visível às escuras
e o que se apresenta tão claro,
não acabasse por (des)iludir.
Vivo no mundo
que (re)invento,
e corre-me um rio, de dentro,
de inesgotável nascente,
que desagua lá, num lençol de estrelas,
o que me faz de tecto,
e que me inspira ao sonho de infinito,
e donde chove o que nem sempre sei,
para que acorde e viva,
e seja tão simplesmente feliz...
Continuo a abrir janelas e sorrisos
para os dias que me nascem ao olhar
e com a vontade,
que espreita,
a que me educo,
bato com todas as portas
ao que me queira restringir a liberdade
ou a quem me faça sentir prisioneiro da noite,
que também, em mim,
habita há tanto.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

E ser...

É no inconsciente
que está o teu futuro.
Mergulha nas profundezas de ti,
colhe de vez
os fragmentos do chão
das primeiras emoções,
e livra-te do peso
de memórias milenares,
resolve-te na transexualidade
da psique,
assume-te nas tuas projecções
e estabelece a ponte certa
ao complexo de tua persona,
para que chegues,
ainda a tempo
de completar
o teu verdadeiro Eu
e ser a felicidade do Todo.

Assim, o mundo te espera.
Vê-o, com o olhar crente do agora,
despreocupadamente.

Cria, Criador...

Cria
e (re)ver-te-ás
nos filhos,
na obra...

Olha-te
e completa-te,
para que assim, atinjas
melhor o teu
Criador.

A grande estrada

Descobre-te no caminho
e acharás a grande estrada
limpa do que te aflige,
do que não és capaz,
do que te faz sentir (i)mundo
de desassossego...

Fecha-te ao engano,
do que sem querer,
constantemente procuras,
para que te distraia,
e fujas assim, ao silêncio
do encontro, a sós,
com a tua real imagem.

As passadas da consciência,
que te firmam ao chão,
doiem,
mas também te abrirão
as asas de ser,
ao anil
e ao céu,
ao amor por descobrir,
e a tudo,
e ao Todo.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Lisboa mulher

Nesta mulher se cria um sonho,
todos o julgam risonho.
Ela é toda esta esperança,
que se inventa, se destrói,
corre p´la dor não se cansa,
o sofrimento não a mói.

De garganta escancarada,
tem na voz a madrugada.
Ela é a noite no desejo
sob um homem que a fatiga,
bebe da água deste Tejo,
não há saudade que a siga.

Canta em outro tom o fado,
por nunca o ter ensaiado.
Lança as mágoas na canoa,
que lhe foge na corrente,
e a gaivota que ali voa
livre poisa-lhe na mente.

Ela é a tarde, que demora,
logo que vem, vai-se embora.
Formosura junto à proa
tem na leveza a maneira
de dançar e ser Lisboa
ao lado de uma traineira.

João Jacinto

(1976)

Na minha Terra...

Na minha Terra
não se nega a riqueza.
Indigna é a pobreza.

Na minha Terra
há riqueza
a distribuir,
justamente.

Na minha Terra,
também há muito pobre
de barriga cheia.

Equivocado

Brinco com coisas sérias,
quando só me apetece chorar
e escondo o meu carpido,
da felicidade que me espreita.
Nem sempre quero
saber de mim,
o que se revela,
e vou-me entretendo no tempo,
com esperança de me alcançar,
desmonto os meus pensamentos
e procuro pelos atalhos dos enganos,
as fugas ao próprio olhar,
e dou comigo de frente,
fingindo a coragem,
equivocado.

Fado das palavras

Neste fado das palavras,
afadigo-me de não as escrever
ou delas me vestir.

Os poemas
são palcos de vida,
onde me mascaro de tudo,
e até do que não quero
e não sou,
mas que temo.
E brinco
à beira do abismo,
esticando a corda,
acreditando que a mim,
ela jamais arrebentará,
e que assim, possa eu
vestir-me e despir-me
como um sofredor,
sem mesmo, o ser,
nem o sentir
na própria pele...

Neste fado das palavras,
prefiro palavras sem fado.

Gostaria

Gostaria
de ser mais igual,
a mim próprio,
para ser diferente,
de pintar a minha alma
de alegria
e primavera,
e que todos os pássaros
me reinventassem
o céu.

Para não me perder...

Para não me perder
luto constantemente
contra o caos,
que sorrateiramente
inventei.

Na insuficiência
de ser,
o medo da sobrevivência,
castra-me a originalidade,
e eu acabo por me fingir,
e correr atrás
dos que me desprezam.

Gradualmente,
descobrirei
no poder,
os direitos
que me servem
e os deveres
que exijo.

Culpo
o que me põe em risco
e custa-me
o que jamais serei capaz.

E procuro-me
no absoluto,
por que me dá jeito.

O caminho

Deverá o sonho
vencer o medo,
por que nada se repete,
nada será igual,
e até pela vontade,
se combate.
O caminho
foi desenhado
desde o início.
Seremos capazes,
descomprometidos
com a pretensão
e com a carência...

Crescemos
todos os dias,
até a dormir.

Abril

Abril
é poesia,
é fonte de esperança,
é luz de liberdade,
é um Tejo, que me desagua,
de prazer,
em águas de fraternidade...
Abril
somos nós,
aos molhos, pelo mundo,
como cravos,
ao rubro,
floridos de palavras
em português
e declamando os poetas
e o nosso sonho.
Abril
foi ontem,
mas poderá ser
mais logo,
outra vez!...

Hyacinthus

No parapeito de minha janela
plantei três bolbos,
num Bohemia, vaso de cristal,
afogados nas lágrimas
de minhas efusivas alegrias,
de meus não consentidos
e sufocados dissabores,
de Hyacinthus.
Estão separados, pela vidraça,
no lado de dentro,
do dia e da noite,
sem vento,
nem chuva...

Frágeis
flores de estufa!

Basta-lhes
olhar o Sol,
espreitar o mundo
e crescer,
de um primeiro andar,
alto.

domingo, 2 de agosto de 2009

Barcos de papel

Do monte,
onde se fez Páscoa,
e poisou o primeiro olhar
ao começo da descoberta,
avista-se além Atlântico
as costas de um poeta
que está virado para o mar,
brincando aos navegantes
com barcos feitos de papel;
o que serviu seus escritos
e onde rabiscados
foram sonhos...

O poeta
tem na memória
a aventura,
no barulho das ondas
o apelo ao caminho
de Iemanjá.

Família

Minha mãe;
sagrada morada,
minha primeira família!...

Sempre
que (re)crio intimidade,
previno Deus,
para que não interfira...

Vivo num t-zero,
alugado,
onde pode,
bem arrumado,
caber todo o amor do mundo.

Minha mãe,
minha primeira família!...

Borboleta do céu

Sou jacinto,
esquecido de tudo,
sem tempo,
perdido
num descampado,
sem jardim
fecundo de verde,
sob a protecção
de uma sábia
e espinhosa acácia.

Uma borboleta vinda do céu,
mesclada em tons de amor,
encantou-se por mim.

Morro de saudade,
depois de em cacho florir
e renasço de esperança,
na espera do doce beijo,
ao feliz encontro
com o meu existir.

Já não temerei Zéphyro!

sábado, 1 de agosto de 2009

(Des)encontro

Nem sempre sei
o que digo,
e nem sempre alcanço
o que me é dito.

E atraso-me,
ou finjo estar adiante,
no entendimento
do caminho,
por que temo
o (des)encontro.

Um pedaço de esperança

Tanto céu!
Hoje, tantas estrelas nasceram,
outras possivelmente sucumbiram...
E eu procurando a tranquilidade
neste canto pequeno do mundo,
aonde também caibo,
mas tão apertado me sinto.
Tanto lugar,
debaixo de outras estrelas,
que não estas,
que me habitam na mente,
para descobrir felicidade
e quem lá vive feliz.
Por que me confundem
palavras de falsas promessas,
e a pobreza de quem tudo espera,
e joga, aqui...
Visto-me
com uma qualquer roupagem,
talvez pela culpa,
que me despe de coragem,
para lutar,
por já não crer
na consciência de um todo.

Já não há valores,
mas ainda há Alma
e um pedaço de esperança.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Emparelhar

Diante de meu espelho,
amarelecido,
picado pelo tempo,
gasto pela constante passagem de imagens
em movimento,
nele reflectidas,
de inquietas poses
de quem se quer entender
e encontrar na volumetria da superficialidade,
exibicionista, falsa,
enriquecida de invólucro,
ocultando a pobreza
do vazio das paredes interiores
dos sentidos e da alma.
E a complexa insegurança
de sermos iguais,
parecidos nos alicerces dos genes,
na simplicidade do respirar,
ou no passar com a mão
depois de termos defecado....

Miro-me ao desejo da descoberta
de meu verdadeiro Eu.
Tento transpassá-lo
e encontrar-me uno
com a imagem.

Tenho no egoísmo dos meus passos
a desfocada timidez,
o medo de amar,
por talvez, ter sofrido constantemente na partilha,
padecido de clivagens por insídia,
que anteciparam,
no silêncio do tormento,
o rompimento de laços,
eternamente idealizados,
desgastados de virtudes...

Sinto arrepiantemente a frieza
da imobilidade do meu rosto,
esperando que se quebre o espelho,
ou me reflicta suficientemente belo,
para que possa eu sobreviver
e amar-me,
perdidamente só.
Mas pressinto a vulnerabilidade
da inconsistente arrogância,
a incapacidade de não resistir ao amor
e ter que me dividir, quiçá,
com quem me possa merecer.

Não quero, só, puxar a velha carroça.
Necessito, sim, de outro,
que a mim se aparelhe
e possamos ter a mesma condição
no percorrer da longínqua caminhada,
investindo com a força muscular do coração
na transparência das cumplicidades vivas,
desbravando as mentiras, os medos,
as forças malévolas, os desassossegos...

Nasça a luz
das cores fortes dos afectos,
da permuta do alimento
na corrente do nós,
do achamento do encanto de cada um,
admirado, valorizado
e espelhado no prazer do outro,
reflectindo um renovado
e fortalecido Eu...

E desnudados,
sem pele,
sem máscaras,
nem adornos,
no à vontade de estarmos sós,
deitaremos no berço
as emoções já esquecidas
dos medos
no crescer,
acompanhados,
companheiros.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Ser Seres

Oh, rei dos animais,
dono e senhor de toda a Terra,
que ainda ambicionas
apropriar-te de outros lugares
além céu,
quando te cruzares
no teu imenso reino,
(por exemplo),
com uma formiga
e a observares atentamente,
vê o que tão dignamente executa,
sem que interrompa,
mesmo confrontada
com a altivez da tua presença.
Fá-lo, se possível,
com ainda mais respeito
do que aquele que por ti tens,
assim como por todos
os que te são semelhantes e próximos,
aos teus olhos.
Pois, apesar de parecer frágil e pequena
é tão forte e grande como tu,
e como os teus demais súbitos,
mesmo os que são temíveis,
pelo tamanho e/ou perigosidade...
Se souberes, assim reconhecê-la,
com humildade,
admirando o seu belíssimo porte,
então, estarás perto
de sentires a grandeza de Deus,
e de entenderes o que apenas te chega
para seres o Ser
e todos os Seres.

(In)desejado

Colo-me ao chão
e agarro-me a todos os meus pertences
com garantia dada, de terem valor,
(mesmo os que não muito aprecio),
e que até me prometem,
dar alguma consistência
à existência que herdei,
serem eternos...
Por que tenho receio
de provar o céu,
e de até nem ser capaz de o viver,
ou de nem mesmo existir
como imaginei,
de não o merecer
e ser castigado,
e não passar de um sonho mau,
perder-me para sempre,
sem conseguir acordar
e voltar à terra.

E assim vivo
como se uma linha de horizonte
me preenchesse a alma,
sem usufruir felicidade desta riqueza,
nem experimentar a transcendência
de um sonho,
montado num possante touro
pelo deserto,
receoso da picada
de um (in)desejado escorpião.

Dissolver-se-ão,
camada por camada,
todas as máscaras,
até que me reste
o rosto da liberdade
e veja no espelho
a nobreza de todo o amor
e não a imagem
da inesgotável solidão,
e/ou a saudade.

E o meu pensamento ascenderá
e vibrará nos confins do infinito
e tudo o que sinta de bom
ser-me-á, aqui, retribuído,
com saber de abundância.

O medo...

O medo
do que se possa perder,
leva ao constante anseio
de conquista.

E nunca,
nada se possui.

País da criação

Neste país, imenso, da criação
canta-se em português
com a voz da alma
que, ecoa e vibra,
pelo cintilar
em todas as estrelas
desenhadas no firmamento
pelo grande Poeta e Criador,
porque em verdade,
também nos habita
poeira cósmica
e centelha divina.

Tal com o Sol
nascemos e nos pomos,
presos pelas leis da física,
à horizontalidade dos caminhos,
(cada um com o seu fado)
sujeitos aos ritmos dos ciclos,
em compassos solitários.
Mas a alma ascende,
se livre e consciente quiser,
e de mãos dadas,
em direcção ao alto
para que se cumpra
a real (r)evolução humana.

E no centro da enorme cruz
está a essência, a riqueza
de cada presente,
como este,
em que tão humildemente vos escrevi.

(E já passou,
para mim,
aqui,
este maravilhoso agora!)

Acordai

O fim do mundo,
o fim dos tempos...
Quem me dera
que fosse já hoje!

Mas ainda faltam tantos dias,
para que se persista neste inferno
de homens adormecidos na dor,
outros de virilidade ferida,
e muitos moribundos, por tão pouco...

Onde fica a coragem de cada um,
para que se faça acordar
da letargia da cegueira,
na madrugada de todos,
pela luz da mesma consciência
ao caminho de todos os futuros?

Bastará um ficar arredado,
para que não se cumpra,
em vitória, a Grande Batalha.

É no lado de dentro
que se descobre o mal
e as armas que o aniquilem
e o espaço a ser (re)construído de raiz,
também berço de afluente
que correrá em direcção
ao sol do meio-dia,
de um qualquer solstício de Inverno...

É no lado de fora,
que a pobreza
ainda se mostra
com arrogância,
iludida,
de rica,
mas já está bem morta,
por afogamento na imagem.

Acordai, acordai, acordai!...

O velho ego

Pelo conhecimento
chegarás a ti,
mas primeiro
terás de travar a grande batalha;
destruir o velho ego,
o que envenena toda a felicidade
e te prende nas profundezas
da obscuridade.

Mata-o de vez!

E deixa (re)nascer
essa essência,
que te é luz
e divina criação!

O dia de Deus

Continuamos infernizados
pelo poder de alguns homens,
que sempre nos tentaram governar
em nome de um deus
(recriado à época),
usando-o para nos castrar,
desigualar, pela intolerância,
e reduzir os insubmissos
e a inteligência
à insignificância...
Quando Ele nos quer
o bem da liberdade,
de mãos dadas com o próximo,
conhecedores do Uni verso,
tão grandiosos quanto Ele
e o amor, que só Ele conhece.

Chegará o dia,
de Deus,
que fechará o ciclo dos demónios;
Deus será Deus
e nascerá em cada homem
um templo sagrado...

E jamais,
por fanatismo
farão de Deus
um assassino.

Fá-lo...

No ceio
de todo o conflito
está o sexo;
os papéis
e a identidade,
a (pre)dominância
e o poder
do género...

E o amor?!
Fá-lo de ti,
na vertical,
viril essência
da condição humana.

Fértil
e mãe
é-nos a Terra.