O universo não nasceu,
foi cuspido,
lançado como uma lasca de espelho na carne de um céu sem pele.
Antes do silêncio,
já havia o ruído do colapso,
a dobra no espaço onde um coração sem tempo girava tão depressa
que esqueceu para onde.
Somos o interior de uma cicatriz,
um nervo aceso dentro da memória de uma estrela que morreu sozinha.
Talvez nunca tenha havido luz,
só a ilusão dela ao romper-se o tecido entre dois esquecimentos.
Cada galáxia é um pensamento desfeito,
uma sílaba de uma frase que o cosmos começou
e não conseguiu terminar.
E aqui estamos,
respirando dentro da boca de um abismo,
achando que entendemos o ar.
A rotação não é destino,
é lamento sem repouso,
é a espiral de um incêndio que alguém,
num outro universo, quase fez,
mas falhou.
O tempo não passa,
é passado
e o futuro é um reflexo que ainda não percebeu que já se quebrou.
Olha à tua volta:
nada aqui foi criado.
Fomos todos esquecidos
e na grandeza disso,
há um tipo raro de paz.
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