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domingo, 27 de julho de 2025

Matriz de Silêncio / J.M.J.

O universo não nasceu,

foi cuspido,

lançado como uma lasca de espelho na carne de um céu sem pele.

 

Antes do silêncio,

já havia o ruído do colapso,

a dobra no espaço onde um coração sem tempo girava tão depressa

que esqueceu para onde.

 

Somos o interior de uma cicatriz,

um nervo aceso dentro da memória de uma estrela que morreu sozinha.

Talvez nunca tenha havido luz,

só a ilusão dela ao romper-se o tecido entre dois esquecimentos.

 

Cada galáxia é um pensamento desfeito,

uma sílaba de uma frase que o cosmos começou

e não conseguiu terminar.

 

E aqui estamos,

respirando dentro da boca de um abismo,

achando que entendemos o ar.

 

A rotação não é destino,

é lamento sem repouso,

é a espiral de um incêndio que alguém,

num outro universo, quase fez,

mas falhou.

 

O tempo não passa,

é passado

e o futuro é um reflexo que ainda não percebeu que já se quebrou.

 

Olha à tua volta:

nada aqui foi criado.

Fomos todos esquecidos

e na grandeza disso,

há um tipo raro de paz.

 

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