Há uma casa na voz,
onde sempre cabe um dono,
um feito, uma culpa.
Falamos em linhas retas,
onde o verbo puxa o sujeito,
e a sentença fecha a porta.
Não há espaço para o silêncio
que não nomeia,
para o gesto que não aponta,
para o instante que não julga.
Por isso o mundo se parte,
em pares que se olham,
em lados que se enfrentam,
em certezas que excluem.
Não é a ciência, nem o fogo,
nem a guerra que destrói,
mas o fio invisível que amarra
a língua ao julgamento.
Pois ao nomear, dividimos,
ao dizer, condenamos
e assim, tudo que é vivido
se torna razão para o mal.
Mas e se a voz soltasse a mão,
se a palavra se despisse do dono
e se o verbo deixasse de empurrar?
Então o mundo voltaria a ser
um rio sem margens,
um tempo sem começo,
um coração sem sentença.
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