Antes da primeira palavra,
houve um estremecimento.
Uma vibração tímida,
vinda de um lugar tão fundo
que o silêncio à volta
quase a afogava.
Não era ainda fala,
mas era já
um princípio.
A voz, quando chega,
não grita.
Chega como se pedisse licença
ao medo que habita a garganta.
E eu deixei-a passar.
Deixei-a atravessar o nó,
o cansaço,
a vergonha.
E disse:
“Estou aqui.”
Tão baixo,
que só o coração ouviu.
Mas isso bastou.
A primeira voz
é semente.
É pequena, sim,
mas já contém a árvore inteira
que um dia será sombra,
fruto,
canto.
Hoje, falo pouco,
mas o que digo
vem de mim.
E isso vale mais
do que todas as máscaras bem falantes
que alguma vez vesti.
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