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sexta-feira, 25 de julho de 2025

Primeira Voz / J.M.J.

Antes da primeira palavra,

houve um estremecimento.

 

Uma vibração tímida,

vinda de um lugar tão fundo

que o silêncio à volta

quase a afogava.

 

Não era ainda fala,

mas era já

um princípio.

 

A voz, quando chega,

não grita.

Chega como se pedisse licença

ao medo que habita a garganta.

 

E eu deixei-a passar.

Deixei-a atravessar o nó,

o cansaço,

a vergonha.

 

E disse:

“Estou aqui.”

Tão baixo,

que só o coração ouviu.

 

Mas isso bastou.

 

A primeira voz

é semente.

É pequena, sim,

mas já contém a árvore inteira

que um dia será sombra,

fruto,

canto.

 

Hoje, falo pouco,

mas o que digo

vem de mim.

 

E isso vale mais

do que todas as máscaras bem falantes

que alguma vez vesti.

 

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