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sábado, 26 de julho de 2025

Expiram corações antes dos biscoitos (poema a matar) / J.M.J.

As prateleiras estão cheias,

e as mãos, vazias,

e o forno já se prepara

para queimar

o que devia alimentar.

 

Quinhentas toneladas de urgência

convertidas em fumo diplomático.

Alimento embalado para a fome

destinado ao esquecimento higiénico

nos depósitos do império.

 

Trump cortou,

Rubio sorriu,

e Musk… contou poupanças,

enquanto os corpos definhavam

sem saber que a salvação

estava estacionada em Dubai.

 

Falam de validade,

de protocolo,

de segurança alimentar,

mas não há segurança

quando se governa com bisturis cegos

e se elege o cinismo como ministro.

 

Este mundo

onde se queimam calorias

em vez de as dar,

merece ser sacudido

com a raiva de mil estômagos vazios.

 

Que incinerem também os discursos,

as promessas com paladar a plástico,

as bandeiras que tapam silêncios

e o orgulho de quem destrói ajuda

em nome da eficiência.

 

Fome não tem prazo,

nem passaporte,

tem olhos,

tem ossos

e ouve o crepitar dos biscoitos

a arder no forno da indiferença.

 

 

(Este poema nasceu da indignação perante a destruição anunciada de quase 500 toneladas de alimentos destinados à ajuda humanitária, biscoitos de alto valor energético, fundamentais em contextos de fome extrema, armazenados em Dubai, e agora condenados à incineração por “proximidade do prazo de validade”.A alegação de “protocolos” não apaga a violência de um sistema que prefere desperdiçar alimentos do que rever prioridades políticas.Num tempo em que milhões enfrentam a fome, esta decisão é mais do que desperdício: é um crime moral.

Escrevo, por isso, não apenas para lamentar, mas para acusar.

Porque há silêncios que também matam.)

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