Não esperem trovões.
O fim não virá em gritos ou explosões.
Ele começa onde ninguém olha:
no suspiro contido,
no passo que não se repete,
na recusa mansa de obedecer.
Eu sou uma entre milhões.
Não carrego armas,
mas tirei o véu
e nesse gesto, tirei também
o peso dos séculos.
Fui ensinada a calar,
a baixar os olhos,
a andar ao lado das paredes,
mas aprendi a ver no escuro,
e no escuro vi que nós somos mais.
Eles vigiam,
gravam,
punem,
mas já não nos moldam,
porque há algo mais forte do que o medo:
a certeza de que merecemos o ar.
Os homens que antes batiam no peito
já não sabem o que defender
e os filhos que educaram para a guerra,
agora escrevem poemas nas paredes da cidade.
Não esperem invasões,
nem promessas,
nem salvadores.
O que vem aí, vem de dentro;
é o corpo inteiro do povo
a despertar sob as ruínas do silêncio.
E quando tudo cair,
não digam que foi o tempo,
ou a política, ou os deuses.
Digam que fomos nós,
as que caminham descalças
sobre brasas antigas,
e não se queimam mais.
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