Ergueram-se
antes do tempo ter nome,
dentro da terra
onde a luz se dissolve,
raízes murmurando segredos antigos
no ventre de um mundo adormecido.
As árvores,
sombras verticais do princípio,
espinhaços do tempo,
pulmões do esquecimento.
Ouviram o primeiro trovão
e o último suspiro,
sabem da sede dos dias
e do peso dos séculos.
Quatro sobreiros
guardam-me em sua quietude.
Não perguntam, não julgam, não se afastam.
Sustentam o eco da minha ausência,
nas suas cascas o sulco das minhas mãos.
Neles,
encosto-me e sou ouvido pelo silêncio.
Sentem minha pele como vento sem rosto,
como quem ouve uma língua sem voz.
Absorvem a memória
e devolvem raízes.
Por vezes, há distância
um desencontro do corpo
com aquilo que nunca deixou de ser lar.
Mas quando volto, ainda ali estão,
ainda respiram, ainda me reconhecem.
Os sobreiros,
antigos como a primeira sombra,
são os ossos de um tempo que não morre.
E eu,
que um dia partirei na poeira dos ventos,
sei que suas raízes ainda sussurrarão meu nome.
E estarão sempre no coração da minha memória,
na vida que lhes fui,
enquanto sou.
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