No espelho líquido do verbo,
onde o tempo se dobra em sílabas de vento,
a poesia insinua-se como maré oculta,
desfazendo margens, moldando os contornos do que
somos.
É chama que arde sem queimar a carne,
é rumor de estrelas caindo dentro de nós,
gota suspensa no infinito instante
onde o silêncio aprende a falar.
Ela nasce entre a fenda e o grito,
sopro clandestino na pedra da história,
um desvio na rigidez dos dogmas,
um clarão na cegueira dos conformes.
Não pede licença,
não se curva ao peso das certezas,
é faca e é pétala,
mão que afaga e que rasga.
Nos signos que desenham o cosmos,
surge a poesia como grafia de luz,
dedos apontados para o inominável.
E floresce, contágio inevitável,
como acácias de amarelo vibrante,
substituindo estrelas,
espalhando perfume,
harmonizando o caos,
e, no vácuo coletivo do universo que persiste,
a poesia, sendo som,
quer-se ouvida no silêncio partilhado.
E o poeta, para outros mundos,
é o deus que rege seus céus.
A promessa de vida eterna na palavra,
a voz que molda os contornos e o destino,
um sopro ancestral, luminoso e imortal,
com o intuito de libertar almas aprisionadas em
limites,
enfrentando as ilusões da verdade e da luz,
os inimigos do entendimento e da clareza.
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