Vejo a luz que não me pertence,
ouço o rumor da sede antes de
nascer o poço,
saboreio o tempo com a língua de
dentro,
toco a pele do mundo sem o ferir,
respiro o cheiro do que ainda não
aconteceu.
Depois,
há o que me segura mesmo quando
caio,
o saber da curvatura do braço no
escuro,
o alerta sem ferida,
o corpo a reconhecer-se num outro
ritmo.
Sinto a bússola onde não há norte,
o mapa secreto dos meus próprios
batimentos,
os segundos alongando-se como se
tivessem alma,
o espaço devolvendo sons como
espelhos vivos,
a urgência de ser movimento e não
só intenção.
O que me atravessa quando o outro
me toca,
sem tocar,
o que vibra antes de ter forma,
o que escapa às palavras,
mas exige escuta.
Há olhos que nunca se fecham
e há um lugar onde todos esses
olhos se encontram.
Sem comentários:
Enviar um comentário