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segunda-feira, 7 de julho de 2025

Profecia da Primavera Triste /J.M.J.

Na cidade onde os ventos falam

e as ruas são memória de um mundo esquecido,

uma sombra cresce nas praças silenciosas,

onde a luz parece curvar-se,

em reverência a algo que já se foi,

mas que ainda ecoa nas pedras frias.

 

Sob o céu que hesita entre o dia e a noite,

duas andorinhas negras voam,

representando liberdade e esperança,

mas seu voo é silencioso,

como a promessa que não se cumpre,

pois o destino das aves é sempre incerto.

 

O relógio não marca mais o tempo

de quem carrega o fardo do nome,

pois o nome é apenas o eco de uma voz

que um dia tentou ser sussurrada

em cada esquina da terra,

onde o horizonte se abre em fendas.

 

E ali, onde a primavera floresce

com um odor amargo de promessas inacabadas,

uma figura se ergue,

não mais como líder, mas como vigia,

guardião das ruínas do antigo destino,

sombra de um passado que insiste em morar no presente.

 

As mãos que antes ergueram corações,

agora tremem perante o peso das estrelas,

e o corpo se dobra,

não à vontade dos homens,

mas àquela força que desafia a matéria,

onde os ventos se tornam vozes.

 

É na primavera triste que a terra,

sufocada pela poeira das velhas promessas,

liberta o último suspiro,

não de dor, mas de uma chama que nunca se apagou.

 

O ciclo, como um véu rasgado, encerra-se,

mas a luz insinua-se pelas brechas,

escrevendo uma alvorada invisível

que não nasce de quem partiu,

mas de algo que nunca ousou ser.

 

Um corpo que flutua antes de tocar o chão,

um nome que ainda se escreve no vento

um rosto que espera para ser visto pela primeira vez.

 

E nas esquinas de um futuro incerto,

os passos são mais leves,

porque a morte, que se veste de silêncio,

não é mais a última palavra.

O que ressurge, transcende as palavras,

e a esperança não morre

nos últimos suspiros da velha fé,

mas renasce onde ninguém a espera.

 

Assim, quando o fim parecer próximo,

será apenas o véu da noite a levantar-se.

Quando o silêncio chamar a aurora,

um traço a despontar com calma

nas margens de um céu que, finalmente,

se abrirá,

não para o fim,

mas para o início de uma nova voz

que aguarda ser ouvida.

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