No vidro dourado,
onde a água se dobra ao reflexo,
um peixe laranja dança,
inflado em sonhos de mares sem fim.
Ele acredita ser um monstro das ondas,
rei de um império translúcido,
onde as bolhas aplaudem e os outros recuam.
Mas no fundo do oceano,
onde a luz não ousa descer,
há um tubarão de dentes infinitos,
com olhos que já viram reinos afundarem
e bocas que já provaram todas as escamas.
O peixe laranja vê no monstro um irmão,
canta-lhe hinos de conquistas líquidas,
e sonha que seu vidro é mar.
A cada dia, nada mais perto do abismo,
chamado pela sombra que o observa.
O tubarão ri, sem mostrar os dentes.
Já devorou cardumes que acreditavam ser exceção.
Deixa que o peixinho nade, que se inche,
que julgue ser vasto.
Porque a boca do oceano não tem pressa.
E o vidro, um dia, racha.
Sem comentários:
Enviar um comentário