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segunda-feira, 7 de julho de 2025

A Mão Que Apaga o Sol / J.M.J.

Querem apagar a História

com dedos de cinza,

como quem sopra velas sem fôlego,

como se o passado fosse um espelho de água

onde se afunda a verdade sem deixar rastro.

 

Mas a História é um ossário de astros,

luz fossilizada na pele dos séculos,

um eco que se entorta no tempo

até ferir os ouvidos dos que fingem não escutar.

 

Querem calar monumentos,

derrubar a pedra para soterrar a culpa,

como se a poeira da destruição

não desenhasse novos fantasmas no ar.

 

Mas o mármore sussurra nos sonhos,

os retratos exilados voltam em gritos,

e as sombras dos que foram

escrevem-se nas entrelinhas do vento.

 

O tempo mastiga impérios,

coroa ruínas, ri dos que julgam

que apagar é esquecer.

 

Pois a História não é pergaminho,

é sangue inscrito no genoma,

cicatriz oculta nos pulsos da Terra,

um relógio onde os ponteiros

são dentes de quem um dia devorará o silêncio.

 

Queima-se o livro,

mas as palavras sobrevivem na carne,

como raízes que desafiam o concreto.

 

Querem apagar a História,

mas a História tem olhos de lobo

e assombra aqueles que negam

o uivo da sua memória.

 

Humanizemo-nos,

antes que nos tornemos pedra

sob os pés da próxima era.

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