Querem apagar a História
com dedos de cinza,
como quem sopra velas sem fôlego,
como se o passado fosse um espelho de água
onde se afunda a verdade sem deixar rastro.
Mas a História é um ossário de astros,
luz fossilizada na pele dos séculos,
um eco que se entorta no tempo
até ferir os ouvidos dos que fingem não escutar.
Querem calar monumentos,
derrubar a pedra para soterrar a culpa,
como se a poeira da destruição
não desenhasse novos fantasmas no ar.
Mas o mármore sussurra nos sonhos,
os retratos exilados voltam em gritos,
e as sombras dos que foram
escrevem-se nas entrelinhas do vento.
O tempo mastiga impérios,
coroa ruínas, ri dos que julgam
que apagar é esquecer.
Pois a História não é pergaminho,
é sangue inscrito no genoma,
cicatriz oculta nos pulsos da Terra,
um relógio onde os ponteiros
são dentes de quem um dia devorará o silêncio.
Queima-se o livro,
mas as palavras sobrevivem na carne,
como raízes que desafiam o concreto.
Querem apagar a História,
mas a História tem olhos de lobo
e assombra aqueles que negam
o uivo da sua memória.
Humanizemo-nos,
antes que nos tornemos pedra
sob os pés da próxima era.
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