Há um ser que repousa no vórtice das palavras,
onde os ventos não sopram,
onde a terra nunca foi dada,
apenas tomada.
E na sua boca, um nome sem carne, sem rosto,
onde o homem, espelho de sua própria essência,
tornou-se sombra do que poderia ser.
E as mãos, que forjaram o ouro da terra,
tocaram as correntes, invisíveis mas pesadas,
enquanto ele, o ser feito de luz e ruína,
olhava de um trono sem forma
para os corpos que se dobravam e se partiam
sob o peso das suas próprias existências.
Ele disse, ou talvez não tenha dito,
pois suas palavras eram labirintos sem fim,
onde os homens, feitos de terra e fogo,
arrastavam-se, sem saber
que sua liberdade nunca foi dada,
apenas permitida, como a sombra
que jamais toca o corpo.
"Serás tu, filho da terra,
a semente que germina nas entranhas de um império de dor?
Serás tu o dono da alma perdida,
a marionete que dança sem saber
que os fios são feitos de mentiras?
Toma os teus, e faz deles o que quiseres,
pois o céu olha, mas não vê."
E assim, as correntes eram laços de amor e ódio,
um toque de mão que não acalma, mas aperta,
onde o suor da dor era considerado a dádiva
e a carne quebrada, a salvação.
Enquanto, nos campos de silêncio,
os olhos fixavam o chão,
como quem olha a eternidade sem encontrar o fim.
O ser divino não se levantou para libertar,
mas para observar.
Pois a liberdade, ele sabia,
não era coisa que se dava,
mas que se tomava,
e os homens, sem saber,
só eram livres quando não mais viam
o reflexo da corrente.
E assim o ciclo se fechou,
onde a luz, que nunca foi dada,
brilhou apenas para quem se ajoelhou,
onde o homem, feito à imagem e semelhança
de um Deus feito à sua própria necessidade,
se tornou o mestre do que deveria ser livre,
num jogo de palavras e correntes
que o próprio tempo não ousou quebrar.
E o que restou, se não o eco vazio
de uma promessa jamais cumprida,
onde a divindade do homem sobre o homem
era, na verdade, um espelho de sua própria caverna,
onde ele aprendeu a escravizar para não ser escravizado,
mas nunca entendeu que sua prisão
era feita de sua própria sombra.
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