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quarta-feira, 23 de julho de 2025

O Homem e o Véu / J.M.J.

O Homem ergue-se sobre o ombro dos séculos,

com olhos que veem o átomo e o infinito,

mas ainda treme perante sombras antigas.

 

A ciência pesa os astros,

mede o tempo,

desvenda os códigos da vida,

mas não apaga os deuses cravados no medo.

 

No altar das certezas,

a razão sussurra,

mas o grito da tradição ainda reverbera.

 

O aço perfura a carne do touro,

as mãos batem palmas,

porque sempre assim foi.

 

A forca ergue-se na praça,

o sangue jorra ao ritmo do hábito,

e chamam-lhe justiça.

 

Mas o tempo avança,

implacável, indiferente,

e o que um dia foi sagrado

hoje apodrece como um ídolo de madeira.

 

A verdade,

fria como fio de navalha,

passa rente à fé,

e esta recua, nega, renega,

tece novos véus sobre os mesmos medos.

 

E o Homem,

esse ser de fogo e cálculo,

constrói naves para tocar as estrelas,

mas ainda se ajoelha diante do vazio.

 

No fim,

só o vento responde. 

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