No ventre da terra,
onde o sangue já se confundia com a areia,
ergueram altares feitos de promessas quebradas,
onde a criança, ainda sem nome,
já carregava o peso do amanhã
que nunca seria seu.
O fogo rugia, a lâmina cortava o ar,
mas as mãos que ofereciam a dor
não viam os olhos pequenos que se escondiam
nas sombras do sacrifício.
E o Deus, tão distante como o eco da pedra,
olhava do alto de um trono invisível,
onde os homens falavam em seu nome,
tecendo redes de morte com palavras de medo.
"Faz", diziam,
"faz o que deve ser feito",
enquanto os filhos se tornavam oferendas
e os corpos se dobravam à espera do perdão
que nunca chegaria.
O chão, antes sagrado, agora era apenas poeira,
onde a crueldade dançava com a inocência
e o futuro se dissolvia nos ossos daqueles
que nunca conheceram a liberdade.
Mas o Deus que ordena o silêncio,
o Deus que enche de choro o rosto da criança,
não é o Deus que existe
nem o Deus que um dia será lembrado.
O sacrifício,
feito em nome de uma razão sem rosto,
não pode apagar a verdade da memória,
pois a violência, como um rio sem margem,
se esquece do que é humano,
e nada resta.
E assim, a história se repete,
mas os gritos das crianças não são ouvidos,
pois os homens ainda cegos, em sua fé enjaulada,
tentam modelar o futuro com as sombras do passado.
O que restará quando o último altar se apagar?
Quando as mãos,
finalmente, largarem o peso da espada?
Serão as palavras ainda capazes de aprisionar ou,
finalmente, a verdade se levantará contra o silêncio da crueldade?
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