Havia uma terra onde os ventos sussurravam promessas de sangue,
e o céu, pintado de chamas e estrelas perdidas,
se tornava o manto de um Deus invisível,
cuja boca nunca se abria, mas cujas mãos comandavam a morte.
Nas trincheiras do medo, os homens marchavam,
seguindo uma ordem que não questionavam,
pois o nome de Deus estava na lâmina
e no fogo que ardia sem razão,
consumindo vidas, apagando rostos,
apagando o que havia sido, o que poderia ser.
"É por Ele", diziam os que matavam,
"É em nome de um bem maior",
enquanto as chamas tocavam os corpos
e a terra se tornava um altar onde nada florescia.
Os gritos se tornaram murmúrios,
sussurros sem eco no vazio do que restava.
A terra foi manchada, mas os olhos dos homens não viam,
pois a razão que os guiava não tinha rosto,
não tinha cor,
era uma sombra lançada sobre o mundo,
uma voz que falava em palavras ancestrais
e a espada que cortava os corações
era invocada com a promessa de redenção.
Mas quem poderia ouvir o silêncio das almas perdidas
quando a glória era anunciada
nos nomes dos que se perdiam na guerra?
Quem poderia olhar nos olhos dos mortos e perguntar:
"Por que o Deus que me ama, me entregou ao sacrifício?"
Em nome do "bem maior", construíram pirâmides de dor,
em nome de um Deus que nunca foi visto,
que nunca teve forma,
os homens cegos criaram um ser invisível
para justificar suas mãos manchadas,
para que o sangue se tornasse luz,
e o genocídio se tornasse virtude.
Mas o que é o nome de Deus
quando é usado para afundar o espírito?
Que Deus é esse que repousa sobre as cinzas de um povo,
que apaga tudo em seu caminho,
sem jamais olhar para trás?
Não será ele apenas um reflexo
daquilo que os homens criaram para se desculpar,
um monstro que nasce da culpa e do medo?
E o que restará da terra onde o nome de Deus
se tornou uma espada afiada?
Será que, no fim, as cinzas vão falar
ou o silêncio, finalmente, vai revelar
que foi o homem quem deu o nome a Deus,
e não o contrário?
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