O mundo range os dentes,
máquinas mastigam o tempo,
e os rostos deslizam na poeira de ecrãs apagados.
Há homens que se vendem por cifras,
línguas de fogo a roer os mapas,
e um rumor de nomes que escorrem dos telhados
como água suja de um temporal.
Mas há também quem rompa as margens,
quem se desamarre da pedra,
quem aprenda a respirar sem o peso das palavras
velhas.
Porque a história não é um anel fechado,
é um cometa em queda livre,
é um ventre a gerar futuros
mesmo no ventre da morte.
Os deuses dissolvem-se como sal
na maré das perguntas certas.
Não há respostas,
mas há caminhos que se desenham
na carne de quem se recusa a ser estátua.
E o vento sopra, sempre sopra,
soprará até que o homem acorde,
até que a noite se estilhace
numa manhã de mil horizontes.
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