Vivemos num buraco do céu,
um supervazio, dizem os sábios,
tão vasto que a luz se perde
e o tempo hesita.
Dois mil milhões de anos-luz
de ausência e mistério,
como se o universo ali tivesse
esquecido
de existir.
E nós, no meio,
a medir a expansão
com réguas feitas de estrelas
e dúvidas antigas.
A luz longínqua sussurra
uma dança lenta,
mas aqui, perto,
as galáxias correm como se fugissem
de algo.
Talvez não fujam,
talvez o próprio espaço
seja uma ilusão moldada pela nossa
posição,
como um lago distorcido visto do
fundo.
Einstein escuta, inquieto,
e a matéria escura estremece
à beira da teoria que ousa
tocar na gravidade com mãos novas.
Se MOND for verdade,
não há escuridão a ocultar,
só a Lei mal compreendida
a tentar acordar.
E nós,
órfãos de certezas,
vivemos no vazio como num ventre
cósmico,
esperando que algo nos revele
não onde estamos,
mas o que somos
quando o universo nos olha de
volta.
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