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sexta-feira, 25 de julho de 2025

Adão no Centro do Vazio / J.M.J.

Adão nasceu onde a luz se curva,

num recanto esquecido do cosmos,

onde a matéria é ausência

e o tempo uma pergunta suspensa.

 

Eva não foi tirada da costela,

foi chamada do silêncio,

do centro do vazio onde o som não nasce

mas onde tudo escuta.

 

Ali, no ventre do supervazio,

nenhum fruto caiu,

nenhuma serpente falou,

foi a própria expansão

que os separou.

 

Não houve culpa,

houve distância.

 

Cada galáxia que fugia

era um pensamento que se perdia,

cada estrela que surgia

um vestígio do verbo antes de ser carne.

 

O Jardim nunca foi fechado,

foi esticado,

rasgou-se na velocidade da luz,

e o Anjo, sem espada,

apenas observa

a geometria da saudade.

 

Talvez a Queda

tenha sido só isto:

um erro de posição,

um desvio na densidade,

uma escolha

entre o todo e o centro.

 

E assim Adão caminha,

não para fora do Éden,

mas através do vazio,

com Eva a seu lado

e a memória de um jardim

que sempre esteve

dentro.

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