Adão nasceu onde a luz se curva,
num recanto esquecido do cosmos,
onde a matéria é ausência
e o tempo uma pergunta suspensa.
Eva não foi tirada da costela,
foi chamada do silêncio,
do centro do vazio onde o som não
nasce
mas onde tudo escuta.
Ali, no ventre do supervazio,
nenhum fruto caiu,
nenhuma serpente falou,
foi a própria expansão
que os separou.
Não houve culpa,
houve distância.
Cada galáxia que fugia
era um pensamento que se perdia,
cada estrela que surgia
um vestígio do verbo antes de ser
carne.
O Jardim nunca foi fechado,
foi esticado,
rasgou-se na velocidade da luz,
e o Anjo, sem espada,
apenas observa
a geometria da saudade.
Talvez a Queda
tenha sido só isto:
um erro de posição,
um desvio na densidade,
uma escolha
entre o todo e o centro.
E assim Adão caminha,
não para fora do Éden,
mas através do vazio,
com Eva a seu lado
e a memória de um jardim
que sempre esteve
dentro.
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