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quarta-feira, 23 de julho de 2025

Movimento e a Pele / J.M.J.

O céu, esfera suspensa,

onde as partículas dançam

e as órbitas perguntam,

como se o cosmos não fosse uma memória

perdida

nas vísceras da própria lua.

 

A Terra, senhora de formas quebradas,

sorri, mas o ar já se desfaz

em redes que nos atam

à liberdade que não sabemos ser nossa.

 

Liberdade é o rastro

do que já se fez.

O movimento não é nosso,

é a continuidade das órbitas

que nos precederam.

 

No fundo, um planeta gira.

Cada escolha, um pulsar

que se confunde com o pensamento,

uma estrela que se apaga,

e acende no instante

em que pensamos ser livres.

 

E as mãos,

como as da revolução,

apertam penas e lâminas

para desenhar o futuro

que já se codifica na nossa pele,

no fluxo que fermenta

e se transmuta.

 

O peso das eras evita-nos,

como a gravidade que mantém

as estrelas em seu lugar.

Somos fragmentos de um sistema

dentro de outros,

uma rede que se expande

em cada gesto,

em cada respiração.

 

E ainda assim,

o corpo não passa de um suspiro,

um movimento de forças antigas,

a dança de algo que já foi,

percorrendo a pele,

invisível, mas imortal.

 

Acreditamos ser nós,

mas "nós" é só

a última onda de um mar que se foi,

tentando justificar o movimento

que não é livre,

mas apenas o sopro

que se desenhou no silêncio do universo.

 

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