O céu, esfera suspensa,
onde as partículas dançam
e as órbitas perguntam,
como se o cosmos não fosse uma memória
perdida
nas vísceras da própria lua.
A Terra, senhora de formas quebradas,
sorri, mas o ar já se desfaz
em redes que nos atam
à liberdade que não sabemos ser nossa.
Liberdade é o rastro
do que já se fez.
O movimento não é nosso,
é a continuidade das órbitas
que nos precederam.
No fundo, um planeta gira.
Cada escolha, um pulsar
que se confunde com o pensamento,
uma estrela que se apaga,
e acende no instante
em que pensamos ser livres.
E as mãos,
como as da revolução,
apertam penas e lâminas
para desenhar o futuro
que já se codifica na nossa pele,
no fluxo que fermenta
e se transmuta.
O peso das eras evita-nos,
como a gravidade que mantém
as estrelas em seu lugar.
Somos fragmentos de um sistema
dentro de outros,
uma rede que se expande
em cada gesto,
em cada respiração.
E ainda assim,
o corpo não passa de um suspiro,
um movimento de forças antigas,
a dança de algo que já foi,
percorrendo a pele,
invisível, mas imortal.
Acreditamos ser nós,
mas "nós" é só
a última onda de um mar que se foi,
tentando justificar o movimento
que não é livre,
mas apenas o sopro
que se desenhou no silêncio do universo.
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