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sexta-feira, 25 de julho de 2025

Manual de Bons Costumes (versão de bolso) / J.M.J.

Querem famílias alinhadas

como fotografias antigas,

onde ninguém pisava o risco

e a vergonha fazia de moldura.

 

Falam de valores,

mas o valor é o que sobra

depois da conta paga

e da dignidade parcelada.

 

Inventam raízes

onde só há cimento

e nostalgia fabricada em série.

 

Chamam lar ao lugar

onde o afeto não pode gritar,

onde o toque se mede

pela regra

não pelo cuidado.

 

Ditam normas com palavras herdadas,

esquecendo que amor não cabe em decreto,

nem a infância em código postal.

 

Querem filhos bem-comportados,

pais obedientes,

mães devotas,

mas não pagam creches,

nem tempo,

nem alma.

 

E gritam família

como se fosse espada,

como se amar fosse guerra

contra o que é diferente.

 

Mas a família real

não mora nos cartazes,

mas sim no cansaço de quem resiste,

na mesa improvisada,

na avó que cuida,

na irmã que alimenta,

no pai que chora escondido.

 

Não há tradição sem verdade,

não há moral onde há medo.

 

E o que querem preservar

já ardeu,

no silêncio

das cozinhas frias

onde se mastiga a vergonha

com arroz de ontem

e promessas de anteontem.

 

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