Os filhos nasceram entre a terra e o céu, sem herdar nem um nem outro,
e cresceram sem nome que os abrigasse, sem deus que os
aceitasse.
Chamaram-lhes monstros, mas eram apenas grandes demais
para o mundo estreito que os cercava.
Tinham olhos que viam o invisível,
vozes que acordavam as pedras,
corpos que não sabiam esconder-se.
Amavam os rios, as árvores, os animais,
mas os homens temiam-nos e os deuses odiavam-nos.
“São aberrações!”, disseram os sacerdotes.
“São castigo!”, gritou o deus que nunca os viu de
perto.
Mas quem os tocava sabia: eram feitos de ternura e
excesso,
e tinham fome, não de carne, mas de pertença.
Foi então que os céus abriram as comportas e lançaram
o dilúvio,
não para purificar a terra,
mas para apagar da memória o que não podiam controlar.
Sem comentários:
Enviar um comentário