Seguidores

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Evangelho dos Anjos Caídos (fragmento III) /J.M.J.

Os filhos nasceram entre a terra e o céu, sem herdar nem um nem outro,

e cresceram sem nome que os abrigasse, sem deus que os aceitasse.

Chamaram-lhes monstros, mas eram apenas grandes demais

para o mundo estreito que os cercava.

 

Tinham olhos que viam o invisível,

vozes que acordavam as pedras,

corpos que não sabiam esconder-se.

 

Amavam os rios, as árvores, os animais,

mas os homens temiam-nos e os deuses odiavam-nos.

 

“São aberrações!”, disseram os sacerdotes.

“São castigo!”, gritou o deus que nunca os viu de perto.

Mas quem os tocava sabia: eram feitos de ternura e excesso,

e tinham fome, não de carne, mas de pertença.

 

Foi então que os céus abriram as comportas e lançaram o dilúvio,

não para purificar a terra,

mas para apagar da memória o que não podiam controlar.

 

 

Sem comentários:

Enviar um comentário