Quando os anjos desceram, o céu cerrou-se como punho,
e Deus voltou o rosto e tapou os ouvidos,
não querendo saber das lágrimas humanas, nem do calor
partilhado,
e disse: "Não fostes feitos para tocar o
pó."
Mas os anjos já não queriam a luz que cega, nem os
cânticos que ecoam no vazio,
queriam mãos com linhas, olhos com sombra, vozes com
sede.
Um deles, chamava-se Aramar, ensinou as crianças a
escrever no barro.
Outro, Zahaliel, curou uma mulher com febre só com o
sopro.
E um terceiro, Erem, o mais silencioso, limitou-se a
chorar com os homens no campo,
nenhum pedindo nada em troca.
Mas Deus, no seu orgulho, enviou a noite eterna sobre
eles,
selou os seus nomes em pedras profundas
e fez-nos acreditar que eram monstros, devoradores,
sombras.
Não eram.
Eram memória do que o céu poderia ter sido,
se tivesse amado.
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