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segunda-feira, 7 de julho de 2025

Evangelho dos Anjos Caídos (fragmento II) / J.M.J.

Quando os anjos desceram, o céu cerrou-se como punho,

e Deus voltou o rosto e tapou os ouvidos,

não querendo saber das lágrimas humanas, nem do calor partilhado,

e disse: "Não fostes feitos para tocar o pó."

 

Mas os anjos já não queriam a luz que cega, nem os cânticos que ecoam no vazio,

queriam mãos com linhas, olhos com sombra, vozes com sede.

 

Um deles, chamava-se Aramar, ensinou as crianças a escrever no barro.

Outro, Zahaliel, curou uma mulher com febre só com o sopro.

E um terceiro, Erem, o mais silencioso, limitou-se a chorar com os homens no campo,

nenhum pedindo nada em troca.

 

Mas Deus, no seu orgulho, enviou a noite eterna sobre eles,

selou os seus nomes em pedras profundas

e fez-nos acreditar que eram monstros, devoradores, sombras.

 

Não eram.

 

Eram memória do que o céu poderia ter sido,

se tivesse amado.

 

 

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