Hoje, acordei com a alma em brasa,
sem saber se era minha
ou emprestada do mundo.
A casa caiu-me aos pés,
mas havia outras,
milhares, em chamas,
sob céus de chumbo e gritos secos.
Sinto vergonha de me doer
quando há corpos sob escombros,
crianças sem nome,
velhos com o olhar preso num muro de fumo.
Mas a dor não é uma corrida,
não é comparação,
é corrente
e passa por mim
como passa por eles.
Não sou ilha, sou carne ligada à carne.
Leio as notícias como quem reza
por um milagre que não vem,
vejo a TV como se de lá
me pudessem ensinar a suportar.
E cada rosto que chora
é mais um espelho onde me vejo
não na tragédia em si,
mas na fragilidade.
Cada vez gosto menos de cá estar,
não porque despreze a vida,
mas porque me custa tanto vê-la despedaçada.
No fundo,
é o amor que me dói.
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